Em Portugal, mais de dois terços dos idosos sentem-se sós. “Os números de que dispomos indicam que a solidão atinge 70% das pessoas com mais de 65 anos”, indica à Renascença Adalberto Dias de Carvalho, presidente do Observatório da Solidão.
“O fenómeno tende a crescer à medida que envelhecemos”, acrescenta o mesmo responsável, que faz parte do Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo, no Porto.
As causas são múltiplas, diz o professor universitário, mas é nas cidades, onde se perderam as relações de vizinhança, que há mais tendência para que as pessoas se sintam sós.
“Sabemos que nas sociedades urbanas há situações de proximidade física que, muitas vezes, não correspondem a relações de amizade, de troca de experiências e de convívio”, aponta Adalberto Dias de Carvalho, acrescentando que a viuvez e a reforma são também fatores que podem conduzir a um sentimento de solidão.
"A perda de familiares, de amigos faz com que muitas pessoas olhem à sua volta, não tenham ninguém... e se sintam sós."
Sublinha ainda que, em alguns casos, a solidão pode ser procurada como um tempo propício à criatividade ou crescimento, mas não é a essa solidão que se refere. “A solidão tem a ver, sobretudo, com a perceção ou receio que alguém tem de não ser reconhecido pelos outros, e com a experiência de os outros não o considerarem, pedindo a sua opinião ou colaboração. É a sensação da inutilidade pessoal.”
Uma sociedade que despreza a velhice
Segundo o professor, “não somos educados” para lidar com esta realidade. “As nossas sociedades promovem a juventude, mas de forma geral desprezam e desconsideram a velhice”, afirma, explicando que não preparamos a fase tardia da vida.
"Há um estigma social que potencia a solidão. As pessoas não querem pensar, nem aceitar o envelhecimento."
Para Adalberto Dias de Carvalho, é preciso começar a falar sobre solidão e envelhecimento desde cedo, para minimizar os seus efeitos. “Se isso feito nas escolas, nas famílias as pessoas não iriam ser tão surpreendidas por fatores que facilitam a solidão e teriam maior capacidade de se prevenirem e procurarem, por exemplo, ocupações desde cedo.”
Ainda que tenha maior incidência na velhice, o fenómeno é transversal a outras faixas etárias, nomeadamente aos jovens, adianta o investigador que diz que 30 a 40 % da população em geral sofre de solidão e que, nos casos mais graves, a solidão pode levar ao suicídio.