Sou daqueles que consideram que as autoridades, com os instrumentos que possuem (poucos, é certo, devido à adesão à moeda única), devem, sempre que necessário, combater os desequilíbrios macroeconómicos que se vão gerando na economia. Ainda que, para tal, tenham que seguir políticas que afectam significativamente os rendimentos de alguns. Descarto, portanto, a demagogia do slogan “a Europa que pague a crise” que não leva a lado nenhum a não ser a uma crise ainda maior.
Mas combater a demagogia não significa que se possam ignorar os problemas sérios de justiça social que surjam devido ao combate à crise. E aqui existem duas opções ideológicas muito nítidas sobre quem deve pagar a crise.
A opção conservadora considera que devem ser os rendimentos do trabalho que devem suportar os custos do combate à crise, quer através do aumento do desemprego quer através de uma descida dos salários reais. O raciocínio é este: quando surge uma crise há que preservar a capacidade das empresas de se recomporem e para isso deve-se facilitar os despedimentos e/ou baixar administrativamente os salários. Mais tarde, os rendimentos salariais acabarão por ser compensados
Esta é a concepção das instituições da moeda única, que prevêem que as políticas de ajustamento se façam à custa dos rendimentos de trabalho. Foi, sem surpresa a concepção do programa da Troika e é também hoje, mas com desagradável surpresa, a concepção do governo actual.
A outra opção, a progressista, com a qual me identifico, tenta que a repartição dos custos do ajustamento seja equitativa, quer em termos de tipos de rendimentos quer em termos de valor dos rendimentos. Não tem sido comum em Portugal dado o carácter conservador da nossa elite política, independentemente dos nomes pomposos que abrilhantam os nomes dos partidos. Subir salários (excepto os próprios) para este sistema é sempre algo que lesa a economia.
Já de si esta visão é negativa, como aliás estamos a sentir com as dificuldades do Serviço Nacional de Saúde, dos professores e das fugas de jovens qualificados para o exterior. Mas o pior de tudo surge quando neste tipo de situações se faz exactamente o contrário do que se tinha prometido em campanha eleitoral.