Paula Campos Pinto, coordenadora do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos, alerta para o risco de muitas pessoas estarem a ser deixadas para trás nesta guerra. Em declarações à Renascença, lembra que há muitos idosos e deficientes em risco porque são incapazes de fugir dos combates.
“Já foi apelidada de uma crise dentro da crise. dentro da crise humanitária que está a ser vivida naquele território. Porque de facto é sempre uma população mais invisível e que naturalmente num contexto de guerra se torna ainda mais invisível pelas dificuldades de acesso. Um dos problemas que estas pessoas enfrentam, por exemplo as pessoas com deficiências físicas é chegarem aos abrigos. Por outro lado, podemos imaginar pessoas surdas não poderão ouvir as sirenes tocar. Ficarão até, eventualmente, indefesas perante um ataque”, diz.
Segundo a coordenadora do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos, há 2,7 milhões de pessoas com deficiência registadas na Ucrânia. “Haverá ainda certamente mais pessoas que não estão registadas e que de facto vivem com incapacidades. Temos visto nas imagens que nos têm chegado como é penoso, árduo, difícil o caminho de fuga para estas pessoas”, diz.
Na Ucrânia, há também 82 mil crianças institucionalizadas. “É muito importante que a ajuda humanitária seja uma ajuda inclusiva. Uma assistência que chegue às pessoas pensando na diversidade das suas necessidades. E, portanto, que encontrem formas, mecanismo de proteger mesmo aqueles e aquelas que são mais vulneráveis”, afirma.
De acordo com a Amnistia Internacional, nesta altura, em Kiev permanecem mais de um milhão de idosos. “Tem muitos habitantes que são idosos e que têm também mobilidade reduzida e não têm autonomia na sua mobilidade. E muitos estão a ser deixados para trás e não conseguem sair”, diz Pedro Neto, da Amnistia Internacional, à Renascença.
“Nós temos alguns dados, mas que não nos permitem ter uma imagem do todo. No entanto, posso-lhe dizer com segurança que os idosos são mais de um milhão só em Kiev e que estão ainda na cidade. E que não saem ou por vontade ou por não ter condições para sair. E neste momento é muito difícil já a mobilidade em Kiev até por causa dos recolheres obrigatórios, mas também pela falta de corredores humanitários que as pessoas sintam confiança de que são seguros para saírem”, acrescentou.