O secretário-geral das Nações Unidas (ONU) voltou a pedir, esta terça-feira, “um imposto extraordinário” sobre os lucros dos combustíveis.
António Guterres falava no arranque na semana de alto nível das Nações Unidas, no âmbito da 77ª Assembleia Geral, a primeira em formato presencial, depois da pandemia.
“Hoje apelo a todas as economias desenvolvidas que coloquem um imposto sobre os lucros extraordinários das empresas de combustíveis, cujos fundos devem ser redirecionados de duas maneiras: para os países que estão a sofrer devido à crise climática e para as pessoas que estão a braços com o crescimento dos preços dos alimentos e da energia”, defendeu o secretário-geral.
Guterres elegeu a crise climática como “batalha que temos de travar”, constituindo-se como “a prioridade”, que deve ser, “de todos os governos e organizações multimateriais”.
Todavia, sublinhou, “a ação climática está a ser posta na linha detrás”, não obstante o grande apoio público para esta questão.
“A emissão de gases com efeitos de estufa deverá diminuir até 2030, para que haja qualquer esperança para alcançar as emissões zero em 2050. Porém, as emissões estão a aumentar a níveis recorde e estamos a chegar a um aumento de 14% nesta década”, afirmou, lembrando a sua ida recente ao Paquistão, país devastado nos últimos meses por inundações, agravadas durante a época das monções, e que já fizeram milhares de vítimas.
“O planeta está a ser vítima desta política de terra queimada”, acentuou, para acrescentar que, só no último ano, “vimos a pior onda de calor desde a Idade Média, grandes secas na China, nos Estados Unidos e noutros lados, a fome no corno de África, um milhão de espécies em risco de extinção”, num cenário que não deixa nenhuma região de fora.
“E ainda não vimos tudo”, afirmou. “Os verões mais quentes de hoje poderão ser os verões mais frios de amanhã. Choques climáticos podem tornar-se acontecimentos frequentes, e com cada desastre, são sempre as mulheres e as raparigas as mais afetadas”, num caso que considerou ser de “estudo na justiça moral e económica”.
Só os países que integram o G20 emitem “80% de todas as emissões de gases com efeitos de estufa”, mas são os países mais pobres, os que contribuem menos, que “estão a suportar o impacto mais brutal desta crise”.
Entretanto, “a indústria dos combustíveis fosseis está a ganhar milhões e milhões de dólares em lucros extraordinários”, ao passo que “os orçamentos familiares estão a diminuir”, lamentou.
Reconhecendo que os combustíveis fósseis não podem ser postos de lado, de um dia para o outro, Guterres pede “uma transição justa”, o que significa que “nenhum país possa ser deixado para trás.
“As empresas de combustíveis fosseis tem que ser responsabilizadas, o que inclui os bancos e as instituições financeiras que continuam a investir, potenciando esta poluição e que inclui esta máquina massiva de relações publicas que gasta milhões e milhões, para que a indústria fóssil não seja escrutinada, tal como aconteceu com a indústria do tabaco há décadas atrás”, lembrou, ainda, o secretário-geral das Nações Unidas, para voltar a insistir que “os poluidores têm que pagar”.
No discurso de abertura da sessão, líder da ONU defendeu ainda que seja enfrentada a crise da biodiversidade e que os oceanos sejam protegidos.
O debate de alto nível da 77.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU arrancou, em Nova Iorque, com a presença de chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, e vai prolongar-se até ao final da semana, com a guerra da Rússia na Ucrânia sob foco.