A normalidade pós-pandemia parece ter regressado às cimeiras europeias com a reunião da última sexta-feira a ser das primeiras em que a Covid19 foi um tema secundário, um assunto de passagem.
Falar da União Europeia é frequentemente citar divisões. Cada país tem o seu próprio olhar estratégico, interesses a longo prazo ou uma forma diferente de entender a Europa. Este pano de fundo foi evidente no tema que mais interessa a Portugal, o aumento dos preços da energia.
Da cimeira não saíram decisões para travar a escalada com os líderes a passar a batata quente ao conselho extraordinário da energia da próxima terça-feira. Mas a discussão está num ponto complexo. Os “mix energéticos” são muito distintos em cada país: enquanto uns dependem do nuclear, outros do carvão e alguns, como Portugal, do gás natural.
O debate é labiríntico porque implica veias e artérias sociais, ambientais e geopolíticas. Onde Portugal defende a aquisição conjunta (como nas vacinas para a Covid19) de gás, Hungria e Polónia acusam a ‘transição energética’, prevista no Green Deal europeu, de provocar a subida de preços. Já a Alemanha desenvolve uma posição ambígua ao aumentar a dependência energética com a Rússia através do polémico gasoduto Nord Stream II.
Portugal está entre os países da União Europeia onde a energia e o combustível são mais caros o que é uma conclusão preocupante do ponto de vista dos custos de produção e da competitividade das empresas: o preço da energia é idêntico ao dos países mais ricos. Os impostos explicam boa parte do elevado preço da gasolina e diesel nos postos nacionais.
Deve o governo levar muito a sério os custos sociais da transição climática? É uma das perguntas para a análise de Nuno Botelho, empresário, presidente da ACP – Câmara de Comércio e Indústria, Manuel Carvalho da Silva, sociólogo e professor da Universidade de Coimbra e João Loureiro, economista e professor da Universidade do Porto, que olhará também para as negociações do OE2022.