​Um governante à solta na Web Summit: "Eu vou andar atrás deles"
02-11-2016 - 19:46
 • José Pedro Frazão

A Web Summit já pôs muita gente a falar de Portugal e pode levar à fixação de novos investimentos, diz, em entrevista na tarde da Renascença, o secretário de Estado da Indústria. João Vasconcelos acredita que para convencer investidores basta uma coisa: trazê-los a Portugal.

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O Governo tem expectativas altas para a Web Summit, a conferência global de tecnologia que se transferiu de Dublin para Lisboa. De 7 a 10 de Novembro são esperados 50 mil participantes de mais de 150 países, incluindo mais de 20 mil empresas, sete mil presidentes executivos e dois mil jornalistas internacionais.

Em entrevista na tarde da Renascença, o secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, diz que o primeiro objectivo do Governo é a “atracção de investimento que crie riqueza e postos de trabalhos”.

Que impacto estima que a Web Summit possa ter na economia?

O impacto pode ser medido de diversas maneiras. O impacto já começou, desde que foi anunciado que a Web Summit viria para Lisboa, no ano passado. Este ano, já recebemos muitos empreendedores, investidores, jornalistas estrangeiros em Portugal graças a esse anúncio. Saímos hoje na France Press, ontem na Reuters, há dois dias no “Guardian” a falar do que está a acontecer em Portugal. E o maior impacto que a Web Summit pode vir a ter em Portugal não está apenas nas noites dos hotéis e nos restaurantes...

Fala-se em cerca de 200 milhões de euros.

Há vários números. Mas o maior impacto não é esse, de longe. O maior impacto é a possibilidade de mostrar ao mundo um Portugal sofisticado, moderno, tecnológico, de mostrar as nossas empresas e atrair investimento para Portugal. Basta convencer um daqueles investidores ou empresários a abrir um escritório ou uma delegação em Portugal, que crie 500 ou mil postos de trabalhos, que justifica todo o apoio. Esse é o maior impacto e já estamos a senti-lo.

Através do Inspire Portugal, conseguimos que seis mil jovens portugueses possam participar neste evento, que não é acessível a um jovem devido ao custo dos bilhetes. É a possibilidade de uma geração de portugueses conhecer os maiores inovadores do mundo.

Também vai estar de cartão-de-visita na mão, nos corredores da Web Summit, à procura de investidores, como um qualquer empreendedor?

Exactamente da mesma maneira. Eu vou andar atrás deles. Esse é um dos maiores segredos da Web Summit. Não é uma feira, é um local com muita tecnologia que permite conectar pessoas dos mesmos interesses. Eu próprio estou registado na “app” [da Web Summit, que funciona também como uma rede social para os participantes] e tenho investidores e empreendedores de todo o mundo a marcar reuniões comigo através da “app”.

Tem um objectivo pessoal, aquela meta que fará disto um sucesso ou não?

Sim, há uma meta pessoal. O primeiro objectivo é a atracção de investimento que crie riqueza e postos de trabalhos. Não é ali que se vai fechar um negócio desses, mas é ali que se conhecem as pessoas, é ali que ficam a conhecer a nossa cultura, Lisboa e Portugal.

A maior parte destas pessoas nunca vieram cá. Estamos a falar de dois mil jornalistas, sete mil CEO [presidentes ou directores executivos], vem o “chairman” [presidente do conselho de administração] da Cisco, o CEO da Renault, o CEO da Cadillac, o CEO da Ford. E, do que tenho testemunhado nos últimos anos a receber estrangeiros, para os convencer a investir em Portugal basta uma coisa: trazê-los cá. Quando eles conhecem o povo português, quando conhecem outros estrangeiros que já cá estão, que lhes falam da experiência deles, é muito mais fácil.

Dois terços das “startups” portuguesas não sobrevivem. Esta alta mortalidade faz parte do processo?

Falhar numa empresa destas não é a mesma coisa que falhar num restaurante, numa fábrica ou num hotel. Falhar aqui é mais rápido e mais barato. Em Silicon Valley, que é o melhor ecossistema do mundo, nove em cada dez [“startups”] morrem. Não tem drama nenhum até porque se aprende muito mais com falhanços e com momentos difíceis do que com bons momentos.

Mas pensemos nos jovens portugueses que saem das universidades. Que incentivos vai dar aos jovens que têm uma ideia?

Portugal está com uma criação de novas empresas acima da média europeia. É impressionante. Isto contraria a tese de que o povo português não arrisca – isso é mentira, está provado. No primeiro semestre deste ano, nasceram 3,3 novas empresas por cada uma que foi encerrada. Estamos com um nível de empreendedorismo muito bom. O que é preciso é que estas empresas criem mais impacto na economia, sobrevivam durante mais tempo, criem mais postos de trabalho. Os vários instrumentos da StartUP Portugal, que é a nossa estratégia para o empreendedorismo, são focadas em quem decidiu criar a empresa. Muitas dessas empresas morrem porque assumem logo dívida.

Como é que dá a volta a isso?

Fizemos uma linha de investimento com “business angels”. São 26 milhões de euros dos quais já foram atribuídos 18 milhões há 15 dias. São pessoas que vão investir na empresa e ficam sócios da empresa, arriscam com o empreendedor, ajudam na parte comercial e na gestão. Lançámos o Vale Incubação – estão abertas as candidaturas –, que permite que as empresas vão para uma incubadora. Não é só para tecnologia, pode ser na agro-indústria, no comércio, no turismo... E o StartUP Voucher, 691.72 euros/mês, que são bolsas para jovens para poderem estar um ano a criar uma empresa.

A Web Summit acontece em Lisboa. Não há um certo centralismo na estratégia do Governo?

O centralismo aqui está onde há fonte de saber e de conhecimento. Onde há universidades é onde está a acontecer tudo o que tem a ver com o empreendedorismo tecnológico. Estão a vingar em Braga, no Porto, em Coimbra…

Vai participar na cimeira do surf, deste fim-de-semana, na Ericeira? Vai à água?

Vou lá porque é essencial para atrair investimento e mostrar que temos isso a meia hora de Lisboa.