Centenas de católicos escreveram uma carta à Conferência Episcopal Portuguesa, a pedir “coragem” nas medidas concretas que venham a ser tomadas para prevenir os abusos na Igreja. Espera-se que algumas dessas medidas sejam anunciadas sexta-feira, no final da Assembleia Plenária Extraordinária da Conferência Episcopal Portuguesa. A conferência de imprensa está marcada para as 18h00, em Fátima.
Na carta aos bispos - com data de 1 de março, e divulgada esta quinta-feira - os subscritores sublinham que “este é o tempo de uma tristeza imensa”, de “revolta” e “vergonha” pelos abusos cometidos, mas deixam também claro que é hora “de não deixar os nossos bispos sozinhos e de contribuir para os ajudar” no “caminho das mudanças, o único possível”. A missiva elenca, depois, uma série de “tarefas” que os subscritores consideram “urgente” encetar já, e a curto e a médio prazo.
"De imediato", para além da “ajuda psicológica e psiquiátrica às vítimas”, que a Igreja deve assegurar “fora do âmbito eclesial”, e de um “momento solene e coletivo” para pedir perdão, a carta sugere que se crie uma nova comissão independente, que prossiga o trabalho da anterior, continuando a receber denúncias e a acompanhar os casos; e que se aceite “a ajuda do Vaticano”, para “refletir seriamente sobre os abusos na Igreja e como ultrapassar a atual crise”.
A curto prazo – até 60 dias – os subscritores propõem que as comissões diocesanas recentrem o trabalho “exclusivamente na prevenção primária e formação”; defendem que “todos os abusadores” que estejam ao serviço da Igreja “sejam suspensos” sempre que houver “indícios minimamente credíveis”, e quando forem considerados “culpados à luz da moral cristã” - haja ou não processo judicial - ,“sejam dispensados de funções”. Se forem padres, devem ser “reduzidos ao estado laical”.
Quanto aos bispos encobridores - se os houver - devem retirar-se de funções.
A médio prazo – até seis meses – a carta pede que se crie um “manual de boas práticas” que ajude a prevenir situações de risco, a identificar casos suspeitos e a acolher e encaminhar as vítimas; mas também que se promova o acompanhamento e tratamento dos abusadores, incluindo ao nível psicológico e psiquiátrico.
Para além disso, todos na Igreja devem estudar as conclusões do relatório da Comissão Independente, para que drama dos abusos não seja negado ou minorado, e deve promover-se uma “reflexão de fundo”, com a ajuda de especialistas externos, sobre o “impacto negativo que a perceção distorcida sobre a sexualidade humana tem vindo a causar em toda a Igreja”.
“Queremos uma Igreja onde todos se possam abrigar e acolher”, lê-se ainda na carta, que é assinada por 219 pessoas e entidades. Entre os subscritores estão médicos, catequistas, padres, assistentes sociais ou professores universitários, entre outros, ligados a paróquias, instituições ou movimentos católicos, como a Comunidade de Vida Cristã (CVX), a Comunidade João XXIII , ou as Equipas de Nossa Senhora.
Coletivamente rubricam o documento o GRAAL, o Nós Somos Igreja, o Metanoia - Movimento Católico de Profissionais, o Nós Entre Nós - Grupo Sinodal de Braga, e a ACI - Ação Católica dos meios sociais independentes, e o Foco Ecológico da Comunidade da Capela do Rato.