Algumas centenas de professores e não docentes manifestaram-se esta sexta-feira em Lisboa, num protesto convocado pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop) em defesa da escola pública e por melhores condições de trabalho.
À hora marcada, pelas 14h00, perto de duas centenas de professores e não docentes já se concentravam na rua Possidónio da Silva, junto à Presidência do Conselho de Ministros, quando chegou também o coordenador do Stop, André Pestana.
Aos jornalistas, o dirigente sindical afirmou que "o ministro da Educação não tem soluções, por isso nós vamos pressionar".
Pestana sublinhou que o que está em causa no protesto dos professores é a continuidade da escola pública: "Estamos na luta por melhores condições dentro das escolas e para que as pessoas entendam que profissionais da educação roubados, desconsiderados e desmotivados, por muito esforço que façam, não podem dar o melhor às nossas crianças, o que elas precisam e merecem".
Ministro “baixou claramente os critérios para se poder dar aulas”
A propósito dos problemas da escola pública, o coordenador do Stop lembrou ainda que perto de 100 mil alunos iniciaram, na semana passada, o ano letivo sem todos os professores atribuídos, sublinhando que, por outro lado, faltam também assistentes técnicos e operacionais.
"Seria insólito que num ano letivo que começa assim não houvesse também um protesto a sinalizar esta situação que prejudica muito crianças e jovens”, disse André Pestana.
Uma das soluções avançada pelo Ministério da Educação para tentar resolver o problema da falta de professores passa por contratar mais docentes com habilitações inferiores.
Uma solução que não convence o líder do Stop. O ministro “baixou claramente os critérios para se poder dar aulas” o que prejudica “a qualidade das aprendizagens aos alunos”, declarou.
“Milhares e milhares de alunos que estão a ter aulas com pessoas que não têm a formação pedagógica e profissional de um professor", disse André Pestana.
O representante do Stop comentou também um eventual desagrado dos pais com a existência de novas greves dos professores no arranque do ano letivo.
“Os pais também têm de perceber é que não é só a questão da falta de professores. É também os milhares e milhares de alunos, os vossos filhos e netos que estão a ter aulas neste momento”, referiu.
Pouco a pouco, foram juntando-se mais profissionais naquela que é a primeira manifestação de profissionais das escolas no ano letivo 2023/2024 e que encerra uma semana de greve convocada pelo Stop.
O percurso da marcha não foi escolhido ao acaso, explicou André Pestana. Por um lado, começando na presidência do Conselho de Ministros porque, segundo André Pestana, o ministro da Educação demonstrou não ter capacidade para responder às reivindicações e, por outro lado, terminando na Assembleia da República "onde também são aprovadas muitas leis".
"Não consigo sair de casa dos meus pais"
Cerca das 14h30 a mancha de manifestantes iniciou o percurso a rumo à Assembleia da República, ao som de apitos, tambores e palavras de ordem como "Não paramos" ou "Está na hora, está na hora de o ministro ir embora".
Georgina Espírito Santo veio de Espinho para participar. Todos os anos fica colocada numa nova escola, o que a obriga a “conhecer novas realidades, novos alunos, novos colegas. É uma ansiedade”, diz a docente à Renascença.
“Vou fazer 39 anos e não consigo sair de casa dos meus pais . É a minha triste realidade e a de muitos professores que deixam os filhos em casa. Isto não é vida para ninguém”, contou.
Outra professora, Dulce Salgueiro, descreve à Renascença os impactos da não contabilização do tempo de serviço: “Estou no oitavo escalão com 36 anos [de serviço]. Já deveria estar no décimo. Vou-me reformar com uma pensão mais baixa do que aquilo que deveria e muitos dos meus colegas nem sequer a isso vão ter direito, já que nem a metade da carreira vão chegar, não é?”
Depois de um ano letivo muito marcado por greves e protestos, os professores e não docentes prometem dar continuidade à contestação até que o Ministério da Educação aceite as reivindicações dos trabalhadores, sobretudo a recuperação do tempo de serviço congelado: seis anos, seis meses e 23 dias.