Manifestações este sábado contra a violência obstétrica em Portugal
05-11-2021 - 00:45
 • João Malheiro

Protestos decorrem em Lisboa, Porto, Coimbra e Funchal. Carla Pita Santos, do movimento cívico, lamenta que não haja "qualquer tipo de recolha de dados oficiais", em Portugal, relativamente à violência obstétrica.

Realiza-se este sábado manifestações contra a Violência Obstétrica, em Portugal, à frente das secções regionais da Ordem dos Médicos, em Lisboa, Porto, Coimbra e Funchal.

O movimento cívico "Violência Obstétrica em Portugal" tem como propósito dar visibilidade à Violência Obstétrica, representar todas as pessoas que viveram ou testemunharam a existência de Violência Obstétrica e lutar pela sua erradicação no país.

É constituído por mulheres vítimas desta violência, profissionais que atuam na assistência à gravidez, parto e pós-parto e membros da sociedade civil solidários com a causa.

À Renascença, Carla Pita Santos, do movimento, conta que este surgiu de forma espontânea, "em resposta à Ordem dos Médicos (OM)", que emitiu um parecer a dizer que "o termo Violência Obstétrica é inapropriado em países onde se prestam cuidados de saúde materno-infantil de excelência, como é o caso de Portugal".

"O parecer não é compreensível, de todo. A OM devia proteger os utentes. Deviam dizer que não era admissível este tipo de violência e que iam, internamente, fazer os possíveis para acabar com este flagelo".

"Há médicos de outros países, nomeadamente do Brasil, que se juntaram ao movimento e não compreendem esta posição", acrescenta.

Carla Pita Santos lamenta que não haja "qualquer tipo de recolha de dados oficiais", em Portugal, relativamente à violência obstétrica.

"Um associação voluntária recolheu cerca de 7.700 testemunhos e percebemos que a prática de uma episiotomia, é indicado que deve ser abaixo dos 5% e nós temos a prática de 73%", aponta.

A representante do movimento cívico diz ainda que dados internacionais apontam que uma em cada três mulheres têm trauma relativo ao parto.

Carla Pita Santos apela a que quem tenha um relato envie uma exposição à OM, encaminhe à Entidade Reguladora da Saúde e se faça uma reclamação no hospital.

"O problema é que a OM não responde às exposições e a Entidade Reguladora da Saúde não tem muito espaço para perceber o que se está a passar. Devia criar-se um mecanismo interno para facilitar o processo de denúncia", defende.