Numa Europa onde se multiplicam as barreiras à entrada de refugiados afegãos é gratificante a iniciativa do ex-Presidente Jorge Sampaio de alargar a jovens afegãs o programa de bolsas de estudo. Este programa foi lançado em 2013 por J. Sampaio para estudantes universitários sírios, mas envolve hoje também jovens de outras nacionalidades. Este gesto, bem como a disponibilidade manifestada por várias entidades portuguesas, incluindo famílias, para receberem refugiados afegãos mostram que a solidariedade não desapareceu do continente europeu.
Por outro lado, a Grécia está a construir um muro de 40 quilómetros junto à fronteira com a Turquia, para impedir a entrada de refugiados do Afeganistão. Uma decisão lamentável, mas compreensível, dada a falta de apoio dos parceiros europeus da Grécia ao acolhimento de imigrantes naquele país.
Os afegãos há anos que procuram no exterior alívio para a fome que grassa no seu país. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em julho deste ano os afegãos eram o segundo maior contingente de refugiados no mundo.
O receio dos talibãs e da sua bárbara teocracia é mais um impulso à saída dos afegãos rumo a outros países. Mas os talibãs já declararam a sua intenção de travar essa saída, tornando o Afeganistão numa enorme prisão.
A resposta de vários países europeus à vaga de refugiados afegãos foi, como infelizmente se esperava, fechar as portas à entrada desses refugiados. Não é uma resposta da UE, mas de Estados membros que, desde há seis anos, recusam receber imigrantes. É o caso, nomeadamente, da Hungria e da Polónia, países a que agora se juntou a Áustria.
Putin declarou não estar disponível para receber na Rússia refugiados afegãos suscetíveis de encobrir terroristas. Uma reação partilhada por vários partidos europeus de extrema-direita, xenófobos e hostis a imigrantes, partidos geralmente admiradores de Putin.
Há, no entanto, uma novidade em matéria de refugiados. Para se vingar das sanções impostas pela UE, o ditador bielorrusso Lukashenko resolveu enviar refugiados para as fronteiras do seu país com a Polónia e com os países bálticos.
O esquema era o seguinte: Lukashenko promovia a vinda de refugiados do Iraque para a Bielorrússia, em avião comercial, não para os acolher, mas para os reencaminhar para a fronteira com a Polónia, a Lituânia, a Estónia e a Letónia, de modo a prejudicar estes países da UE. Assim, por exemplo, no corrente ano mais de 4 mil refugiados em busca de asilo atravessaram a fronteira entre a Bielorrússia e a Lituânia, cinquenta vezes mais do que em 2020.
Por isso multiplicaram-se os voos entre Bagdá e Minsk. Foi preciso a Comissão Europeia chamar a atenção das autoridades iraquianas para que o seu país recebe significativo apoio financeiro da UE... O que levou a que este singular transporte de refugiados cessasse.
Entretanto, por motivos óbvios Bruxelas teve que aceitar, e até apoiar, a construção de muros e barreiras na fronteira entre, de um lado, a Polónia e os países bálticos, e, do outro lado, a Bielorrússia. O vento não sopra de feição a uma abertura europeia ao acolhimento de refugiados.