A Fundação Côa Parque (FCP) anunciou, esta sexta-feira, a descoberta de um novo painel gravado, com mais de seis metros de comprimento, e contendo mais de 20 novas gravuras paleolíticas, que se encontravam cobertas por camadas arqueológicas.
De acordo com a FCP no início deste ano, a equipa de arqueologia da fundação, liderada por Thierry Aubry, novo responsável técnico-científico do Museu do Côa e Parque Arqueológico do Vale do Côa, iniciou os trabalhos de escavação junto à rocha 9 do Fariseu, um dos principais núcleos de arte rupestre do Vale do Côa, classificados como Monumento Nacional e inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO.
Os trabalhos arqueológicos foram, entretanto, suspensos no âmbito do plano de contingência do COVID-19.
As novas descobertas já foram publicadas na revista Achéologia, a principal revista de atualidade e divulgação arqueológica francesa.
Os trabalhos agora publicados, explica a FCP, foram motivados pela identificação de um traço gravado junto à rocha 9 do Fariseu, que prosseguia sob o solo atual, numa superfície então visível de menos de um metro de comprimento.
“Sob os sedimentos escavados percebeu-se que o painel tem mais de 6 metros de comprimento. Verificou-se ainda que o traço que se observava à superfície fazia parte da garupa de um grande auroque (boi selvagem) com mais de 3,5 metros de comprimento”, explica a FCP.
De acordo com a fundação “trata-se da maior figura da arte do Vale do Côa e da toda a Península Ibérica, e uma das maiores do mundo, apenas comparável com os auroques da gruta de Lascaux”.
“No seu interior identificaram-se outros animais gravados por picotagem e abrasão: uma fêmea de veado, uma cabra e uma fêmea de auroque, seguida pelo seu vitelo. No setor direito do painel identificou-se um outro conjunto de gravuras, contendo várias representações de auroques, veados e cavalos, todos sobrepostos, que se encontram ainda parcialmente sob sedimentos”, acrescenta.
“As figuras parecem fazer parte da fase mais antiga da arte do Côa, datada de há mais de 23.000 anos”, assinala.
Ainda de acordo com a Fundação Côa Parque para além da importância do achado em si, o facto de o painel ter sido encontrado sob camadas arqueológicas permite “atribuir-lhe uma data mínima. Esta é a única forma de datar objetivamente a arte do Côa, uma vez que é impossível de datar diretamente por Carbono 14”.
Já em 1999, foi identificada a rocha 1 do mesmo sítio coberta por sedimentos arqueológicos, tendo então sido possível datar o início e o fim da arte paleolítica do Vale do Côa.
“A continuação dos trabalhos e as datações físico-químicas a realizar permitirão datar de forma científica estas camadas que cobrem as gravuras, mas a sua comparação com o registo da rocha 1 permite dizer que as mais antigas datarão das primeiras fases do Paleolítico Superior”.
A escavação surgiu no contexto do estudo do contexto arqueológico da arte paleolítica do vale do Côa, que se vem desenvolvendo há 25 anos.
Segundo a Fundação Côa Parque, os dados preliminares agora publicados “reafirmam a importância da continuação dos estudos arqueológicos no Vale do Côa, demonstrando uma vez mais que grande parte da sua riqueza patrimonial se encontra no subsolo, onde se deverão ir buscar as respostas para as perguntas que subsistem, sobre porquê e quando foi feita a arte paleolítica do Vale do Côa”.
Os trabalhos arqueológicos serão continuados assim que as atuais medidas de contenção da pandemia COVID-19 o permitam.