Muitas têm sido as discussões na Web Summit sobre saúde nesta e em edições passadas, mas as conclusões podem envolver bem menos tecnologia do que se possa pensar.
Numa altura em que a Organização Mundial da Saúde declarou a solidão como uma ameaça premente à saúde global, um painel reuniu um grupo de especialistas em biotecnologia e medicina e acabou a falar... de abraços.
Amol Sarva, da Life Extension Ventures, investe em cientistas e em empreendedores que estão a criar tecnologias para extender a longevidade. Para Amol "sempre quisemos viver para sempre", mas não há "uma solução mágica": "as coisas mais óbvias são as que funcionam". Ou seja, comer bem, dormir melhor, mexer o corpo e manter relações saudáveis.
"A tecnologia pode servir é para nos ajudar a perceber o que está a funcionar", diz, garantindo que, agora, a diferença é que já não há o "antigo estigma" associado à investigação relacionada com a longevidade. "O estigma existia porque estavam a tentar vender-nos uma ilusão. Hoje em dia já não procuramos pastilhas milagrosas. Queremos é viver, mas viver bem".
O médico David Luu concorda e vai mais longe, falando em "Medicina 4.0". "As pessoas querem viver mais, mas bem. Se conseguirmos assegurar que o conseguimos fazer sem doenças, o estigma desaparece", adianta. O futuro da Medicina passa, então, por "prever a doença e preveni-la" e, para isso, "envolver o paciente no processo".
"Daqui a pouco tempo poderemos ter, graças a um telemóvel, acesso a informação, a um médico e até a medicação no bolso", entende.
Já Michael Geer, que criou o Badoo e agora quer abrandar o nosso envelhecimento, diz que a resposta passa por "colecionar dados para prever" eventuais doenças. "Precisamos é de medir repetidamente para poder prever", assegura o criador da aplicação "Humanity" - criada precisamente com esse intuito - que acredita que falar do "setor da longevidade" vai deixar de ser um fenómeno nos próximos anos. "Vai ser 'mainstream'", garante.
O médico na sala não parece assustado com a utilização de inteligência artificial na Medicina. Pelo contrário: vê com bons olhos a tecnologia "como uma facilitadora de conhecimento". "Há uma IA para Medicina que foi criada há três dias e já sabe mais do que eu!", disse, com entusiasmo. Mesmo assim, David Luu continua a acreditar que, apesar da "democratização das tecnologias" ser importante, "nada substitui um abraço".
"A falta de conexões sociais é mais perigosa que fumar, beber demais ou não fazer exercício", recorda.
"Não interessa que te mande tomar suplementos e fazer dieta se depois não tens uma comunidade. Os bons amigos são um super remédio... Então, invistam em dar abraços. É barato", remata.