"O Ministério Público está a fazer o seu trabalho", mas que esse trabalho "é de facto lento, é muito lento e é pena que assim seja", afirma a líder do Bloco de Esquerda (BE) sobre a detenção de Manuel Pinho, ex-ministro da Economia de José Sócrates.
Catarina Martins afirma, em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, que "a lentidão da Justiça tem sempre o problema de não chegar ao fim".
Nesta entrevista, que terá publicação na íntegra na quinta-feira e no âmbito das eleições legislativas de janeiro, a líder do BE refere que se tratam de "crimes que acabam por prescrever sem serem julgados, o que faz com quem que deveria ser condenado não seja, quem poderia ter hipótese de ser inocentado ficará sempre às costas com uma prescrição que nunca julgou verdadeiramente o que fez ou não fez".
A conclusão da dirigente bloquista é que "uma Justiça que tarda é uma Justiça que é negada", acrescentando que "a Justiça tem de ser mais forte", admitindo que ainda assim prefere "que o Ministério Público vá fazendo passos ao invés de não fazer nada", considerando, no entanto, que "é grave, é gravíssimo prescrever".
A bloquista apela a que "a Justiça tem de ser mais rápida, tem de ter mais meios", precisando que "tanto do ponto de vista do Ministério Público, como do ponto de vista da Polícia Judiciária e mesmo dos tribunais e magistraturas, tem muita falta de meios", dando o exemplo "da falta de meios técnicos e a falta de gente", referindo que "os tribunais não têm oficiais de Justiça para funcionar", sendo isto "um problema grave do país".
As offshores e um "sistema fiscal cheio de buracos"
À boleia deste caso que envolve o ex-ministro da economia de José Sócrates, Catarina Martins lamenta as "leis que favorecem o crime económico, a forma displicente como tratamos as offshores deste país é um problema, porque na verdade é aceite como normal que se tenha contas em offshores, quando não há nenhuma boa razão para se alguém fazer uma conta numa offshore a não ser querer estar a fugir a alguma lei ou aos impostos".
As críticas estendem-se ao "sistema fiscal cheio de buracos, é um problema a forma como se deram apagões fiscais e outros problemas que ainda não foram julgados no nosso país é de facto um problema".
A coordenadora bloquista salienta que "durante muitos anos, quando o Bloco disse o que ia mal o sistema financeiro, seja por exemplo com a EDP eramos acusados de uma perseguição obcecada a esses grupos económicos e hoje sabemos que o trabalho que o BE fez nas comissões de inquérito, por exemplo, o João Semedo no BPN ou da Mariana Mortágua no BES e nas outras ou com Jorge Costa nas rendas da energia, foram fundamentais para o país perceber como estava a ser assaltado".
Catarina Martins conclui ainda que "o Ministério Público está atrás de dados que as comissões de inquérito também revelaram e é particularmente revelador que aquele capítulo que o PS e PSD se juntaram para tirar do relatório da comissão de inquérito às rendas de energia, sobre as barragens, sobre Manuel Pinho, seja aquele que está hoje a fazer a acusação em que o Ministério Público está a trabalhar".
Nesta entrevista à Renascença e ao Público, a dirigente do BE remata com um "veremos como é que ela vai acabar", referindo-se à acusação do Ministério Público, puxando os louros para o partido que lidera ao dizer que "na verdade prova-se que o BE tinha toda a razão e prova-se a existência deste Bloco Central, desta aliança formal entre PS e PSD para que certas decisões e certos negócios muito ligados à privatização de sectores estratégicos nunca sejam escrutinados e lá escondem-se verdadeiros assaltos que a Portugal".