No centro de acolhimento de refugiados instalado na localidade polaca de Mlyny, na fronteira com a Ucrânia, este sábado foi dia de, sobretudo, fazer limpezas e reorganizar espaços, para preparar a chegada da segunda vaga de fugitivos da guerra.
Esta zona comercial, com um hipermercado e dezenas de lojas outlet, foi transformado "em apenas um dia" num dos cinco centros de acolhimento de refugiados da região de Podkarpackie, no sudeste da Polónia, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro.
Cerca de 2,6 milhões de ucranianos já deixaram o país em fuga à guerra e mais de 1,5 milhões foram para a Polónia, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Nas últimas duas semanas, chegaram a estar oito mil refugiados em simultâneo no centro de acolhimento de Mlyny, mas, nos últimos três dias, o número de ucranianos a entrar na Polónia diminuiu substancialmente e este sábado estavam "apenas umas poucas centenas" no espaço, segundo Pawel Szkola, um dos responsáveis da proteção civil regional, em declarações a um grupo de jornalistas.
O frio, que chega aos 12 graus negativos durante a noite, as operações militares russas na Ucrânia, o cerco de cidades e o encerramento de corredores humanitários são a explicação apontada pelos guardas fronteiriços de Korczowa, ao lado de Mlyny, para a diminuição do número de refugiados, que ainda assim continuam a ser cerca de quatro mil por dia apenas nesta passagem.
O presidente do governo regional de Podkarpackie, Wladyslaw Ortyl, não tem dúvidas de que chegará uma nova vaga de refugiados nos próximos dias, que colocará "problemas novos" e "um grande desafio" às autoridades regionais e locais polacas.
A primeira vaga foram, sobretudo, mães e filhos "que chegaram com moradas onde ficar, na Polónia e noutros países", afirmou, em declarações ao mesmo grupo de jornalistas, num périplo, este sábado, por centros de acolhimento, postos de fronteira e estações de comboio onde, invariavelmente, se repete o mesmo cenário de salas e plataformas cheias, essencialmente, de mulheres com crianças, adolescentes e animais de estimação.
"Aceitar outra vaga de refugiados pode ser difícil e podemos precisar de ajuda", disse Ortyl, que propôs a criação de uma plataforma, no seio do Comité das Regiões Europeu, de uma base de dados com as disponibilidades regionais para acolhimento de refugiados em toda a União Europeia, para tornar mais ágil o processo de recolocação de pessoas e evitar, assim, os mecanismos europeus reféns de burocracias ao nível de governos centrais.
"A próxima vaga pode custar problemas no futuro. Temos de levar em conta que os refugiados podem ficar mais tempo na Europa, talvez meses ou anos. Mesmo que a guerra acabe no futuro próximo, estas pessoas não podem voltar às suas casas destruídas e para o seu país destruído", acrescentou, dizendo que é preciso aprovar um sistema de financiamento para o acolhimento de refugiados nas zonas que mais pessoas estão a receber, cujas "possibilidades não são ilimitadas" e vão precisar "da ajuda de outros países europeus".
Nestas duas semanas de guerra na Ucrânia, a Polónia reorganizou os seus transportes públicos e contou com a solidariedade de operadores privados para tentar retirar refugiados o mais rápido possível das zonas de fronteira.
O apelo agora é que se juntem a este esforço os outros países da União Europeia, nomeadamente, ao nível da rede de comboios.
Foi com esse objetivo que o governo polaco reuniu este sábado na estação de Przemysl, a poucos quilómetros da Ucrânia e ponto de chegada de comboios do outro lado da fronteira, ministros com a tutela dos transportes da Polónia, Ucrânia, República Checa, Áustria, França e Alemanha e a comissária europeia com a mesma pasta, Adina Valean.
Numa conferência de imprensa em pleno cais, os ministros dos países vizinhos prometeram solidariedade e reforço dos comboios para refugiados. Já a comissária saudou a cooperação entre regiões e países vizinhos para identificarem a melhor forma de criar "corredores europeus" de transporte para responder a esta crise.
Foi também com o ruído de fundo dos comboios a chegar e a partir, "o som da esperança", como lhe chamou a comissária europeia, que o presidente da Câmara de Przemysl, Wojciech Bakun, pediu a "outras cidades de toda a Europa" que acionem mecanismos para acolhimento de refugiados. Pela sua parte, realça que em duas semanas, uma população de 60 mil pessoas já recebeu e encaminhou meio milhão de ucranianos vindos nos comboios do outro lado da fronteira.