O discurso político da campanha está dominado por dois temas: cenários de governabilidade e saúde. Em redor é o (quase) deserto. A inflação, variável que pode baralhar o equilíbrio político em toda a Europa, não é alvo da menor análise.
Afinal, o preço da eletricidade está quatro vezes acima do normal, o barril de petróleo disparou mais de 50% em 2021, negoceia agora os 75 dólares, mas os especialistas admitem 100 dólares no início do Outono no hemisfério norte. Por controlar estão fatores temporários a pressionar os preços como a tensão na Ucrânia ou as disrupções nas cadeias de abastecimento.
A discussão da ameaça inflacionista é central em vários países, mas em Portugal está a milhas da campanha. Nos Estados Unidos (está a 7%) é fator para as eleições de novembro para o Congresso, na Alemanha (5%) é o tema do momento, na média da OCDE está nos 5,8%. Em Portugal subiu 2,8% em dezembro.
Se o BCE acionar o dique para conter a inflação – comprar menos dívida dos estados e subir os juros – a decisão teria grande impacto no estado, empresas e famílias portuguesas. Parte da política monetária do BCE está assente no fato do preço a pagar não ser elevado para os eleitores do norte da Europa.
Mas se a inflação obrigar as classes médias a pagar a fatura, o norte europeu vai pressionar o BCE a subir as taxas de juro. No passado sempre que o BCE se decidiu por políticas mais restritivas os grandes afetados foram a Grécia e Portugal.
Por que razão não se discute temas como a inflação, crescimento, produtividade? Pelo fato de Portugal ser a sociedade europeia com maior iliteracia financeira e económica no ranking do BCE? Assim se explica a falta de exigência, averiguação e escrutínio dos eleitores sobre decisões a afetar a vida coletiva como despesa pública, políticas fiscais ou resgate de empresas?
A análise é de Henrique Monteiro, Nuno Botelho e José Alberto Lemos que olham também para a solução encontrada para os eleitores em isolamento pandémico, para a campanha eleitoral e para a tensão Nato-Rússia.