Os bispos do Canadá chamam “imperialismo cultural ocidental” à iniciativa anunciada por Justin Trudeau, o primeiro-ministro canadiano, para duplicar a ajuda externa destinada a organizações que praticam ou promovem o aborto no âmbito da assistência aos países em desenvolvimento.
Trudeau anunciou a semana passada que o Canadá doará cerca de 450 milhões de euros a programas de “saúde reprodutiva e sexual”. O seu Governo reverteu ainda a proibição do executivo anterior de financiar organizações que promovem ou praticam o aborto.
A iniciativa, com o nome “A sua voz, a sua escolha” é uma resposta directa à readopção por parte do Governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, da Política da Cidade do México, que impede o país de financiar qualquer organização que promova ou pratique o aborto em países terceiros.
Vários países europeus aderiram a uma iniciativa semelhante, promovida pelo Governo holandês, chamado “She Decides” [Ela escolhe], incluindo o Governo português, embora a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e cooperação tenha dito à Renascença que se trata apenas de apoio político e não financeiro.
Em cartas separadas, dois dos principais bispos canadianos escreveram ao primeiro-ministro a lamentar a sua opção. O presidente da Conferência Episcopal do Canadá, Douglas Crosby, considera a iniciativa um “exemplo repreensível de imperialismo cultural do Ocidente e uma tentativa de impor ‘valores’ desorientados mas supostamente canadianos a outras nações e outros povos”.
Também o cardeal Thomas Collins, de Toronto, manifestou por escrito a sua “profunda preocupação e desilusão”, considerando ser um acto de arrogância que “as nações poderosas e ricas ditem as prioridades a abraçar por parte dos países em desenvolvimento”.
Sublinhando que o conceito de oferecer ajuda externa ao desenvolvimento é em si bom, Collins diz que “o dinheiro gasto a promover o aborto e a contracepção poderia ser mais bem aplicado a vacinar milhões de mulheres e raparigas contra a Malária e outras doenças”.