Márcia está na segunda semana de isolamento. A cantora já tinha decidido, na semana passada, fechar-se em casa com os seus filhos, porque diz “não querer ser perigo para os outros” face à pandemia do novo coronavírus.
É da sala de sua casa que, nesta quarta-feira à noite, pelas 22h00, participará no segundo dia do @FestivalEuFicoEmCasa. O concerto de trinta minutos será através do seu perfil @marciaoficial_insta.
Em entrevista à Renascença, Márcia conta: “há uma parte do isolamento a que estou habituada, porque uma pessoa quando escreve já está habituada a isolar-se”. Mas o momento que vivemos é diferente, acrescenta a compositora. “Há uma ideia inerente a tudo isto e que é assustadora. É perceber que há uma ameaça e um perigo lá fora.”
Ainda assim, a cantora que se lançou no mundo da música em 2009 e que no ano passado celebrou 10 anos de carreira com Coliseu cheio, mostra-se otimista. “Tenho muito aquela ideia de futuro. Percebe-se que isto vai demorar um bocado, mas vai passar.”
Autora do tema “A Pele que Há em Mim”, que hoje interpretará no pequeno concerto a partir de sua casa, fala da capacidade de adaptação às circunstâncias. Dando como exemplo o @FestivalEuFicoEmCasa, que mobiliza dezenas de artistas portugueses até domingo em concertos gratuitos de trinta minutos pela internet, Márcia destaca a forma “como as pessoas estão a ficar cada vez mais criativas em encontrar soluções.”
Nesta conversa, feita à distância de um telefonema, Márcia aponta os exemplos de entreajuda dos “mais jovens que vão buscar comida aos supermercados para os mais idosos” como formulas de “criatividade” para encontrar soluções de adaptação aos tempos de correm.
Situação preocupante no mundo artístico
Com cinco discos editados, Márcia fala do impacto que a pandemia está a ser no setor artístico. “Músicos, técnicos, agências, promotoras e tantos profissionais do espetáculo não têm o seu meio de sobrevivência assegurado.”
Embora diga que agora o que é importante “é estar sossegado em casa”, a cantora reconhece que “depois temos de dispensar alguma atenção a essas coisas, porque as pessoas têm de sobreviver”.
Preocupada com a sua equipa de músicos, Márcia evoca a sua experiência do estudo de Belas Artes e lembra que “nos piores cenários da História, a arte não morreu. Não é um problema para a arte, o problema coloca-se é para a sobrevivência dos artistas. Isso é fundamental.”
Nestas declarações à Renascença, horas antes do concerto, Márcia diz ainda que a questão da sustentabilidade da carreira artística “já devia ter sido trabalhada há muito tempo, mas não está assegurada porque o artista não tem um estatuto ou uma segurança”.
Olhando para a questão dos recibos verdes, Márcia aponta: “todas as pessoas que só recebem quando vão ao seu local de trabalho, como é o caso da minha equipa, preocupa-me gravemente”. Ainda assim, Márcia conclui: “ainda acho que me preocupa mais o que está acontecer ao nível de saúde, por isso, uma coisa de cada vez. Primeiro, ficar sossegado em casa e depois vamos ver. Isto vai-se solucionar”.
@FestivalEuFicoEmCasa com adesão massiva
O primeiro dia do @FestivalEuFicoEmCasa teve mais de 700 mil visualizações. Segundo dados divulgados pela organização, “a página de Instagram do festival tem já mais de 225.000 seguidores.”
O público saltou “de conta em conta de Instagram dos vários artistas” que fizeram o alinhamento do primeiro dia. “O recorde de pessoas que viram as atuações de ontem [terça-feira] coube a Diogo Piçarra”, refere em comunicado a organização, que avança “um pico de cerca de 60 mil pessoas em simultâneo, com o estrondoso número de 183.552 visualizações”.
O @FestivalEuFicoEmCasa continua até domingo, dia 22, sempre entre as 17h00 e as 23h30. Por lá vão passar nomes como Ana Moura, Pedro Abrunhosa, António Zambujo, Mafalda Veiga, Matias Damásio, Capicua, Carolina Deslandes, Ricardo Ribeiro ou Tiago Bettencourt.