Sem apoio da DGArtes. "Terras sem Sombra" faz edição mais reduzida
12-05-2023 - 08:15
 • Maria João Costa

Aos 19 anos, o festival "Terras sem Sombra" perdeu o apoio da DGArtes, mas não desiste. Enquanto contesta os resultados dos concursos, avança com programação “de resistência”. Dedicado este ano à Áustria, o festival do Baixo Alentejo conjuga música erudita, ações de proteção da natureza e defesa do património em 10 concelhos.

Sem apoio da Direção-Geral das Artes (DGArtes), depois do “golpe seco”, como lhe chama o diretor artístico José António Falcão, o Festival Terras sem Sombra avança com uma “programação de resistência”.

A décima nona edição que arranca esta sexta-feira teve para se chamar “O que fica do que passa”, mas a direção do único festival de música erudita do Baixo Alentejo preferiu-lhe dar o subtítulo de “um breviário da resistência musical”.

Em entrevista à Renascença, Falcão indica que estão “numa fase de transição”, porque aguardam o resultado do “recurso hierárquico” que apresentaram deste que é nas palavras de um dos seus criadores, “o único festival regional” que cobra “praticamente um quarto de Portugal continental”.

É com uma atividade para os mais novos e para as famílias que esta sexta-feira é dado o ponta-pé-de-saída. No sábado, será em Ferreira do Alentejo, no Lagar da Herdade do Marmelo, um projeto do arquiteto Ricardo Bak Gordon que decorre o primeiro de vários concertos e que juntará o violino de Johannes Fleischmann e o piano de Sabina Hasanova, pelas 21h30.

Devido aos constrangimentos financeiros, “naturalmente que é um ano mais restrito”, indica José António Falcão. “Habitualmente visitávamos entre 18 e 20 concelhos. Este ano estaremos apenas em 10”, explica o organizador que reconhece que não foi muito fácil encontrar alternativas à falta de financiamento estatal.

“A realidade é que os nossos parceiros empenharam-se imenso para que fosse possível concretizar-se esta edição”, acrescenta Falcão explica que “os municípios, as instituições locais, as associações, os voluntários e até as famílias se organizaram bastante para que isto pudesse realizar. É, no fundo, uma iniciativa da sociedade civil”, remata.

“Esperemos que não seja o canto do Cisne, até porque não será possível depois, já em 2024, continuar”, reconhece o organizador do Festival Terras sem Sombra, um evento que tem o alto patrocínio do Presidente da República.

Afirmando que a “esperança não morreu”, nesta entrevista à Renascença, José António Falcão indica que quiseram “garantir aquilo que são os serviços mínimos, por perceber realmente que o festival é algo muito importante para as comunidades”.

Com caráter itinerante, o Terras sem Sombra tem previstos concertos e várias iniciativas em torno do património cultural e de biodiversidade em diversos concelhos do Baixo Alentejo. O Festival vai este ano passar por Castelo de Vide, Mourão, Beja, Santiago do Cacém, Odemira, Vidigueira, Arraiolos, Montemor-o-Novo e terminando em Sines, em dezembro.

Toda a programação está disponível na página do festival em terrassemsombra.pt. “Este é um festival realmente que tem vindo a ganhar novos públicos”, refere ainda José António Falcão que explica que além do público nacional, o Terras sem Sombra tem um público que vem de Espanha. É um “contingente de espectadores que já significativo”.

Defendendo a necessidade de manter a ligação com o seu público, o diretor do festival lembra que têm conseguido “captar crianças e jovens e, através deles, depois as famílias e portanto, há aqui um capital que é fundamental manter-se”, conclui.

Custa-me um bocadinho em Portugal esta dificuldade de mantermos as nossas Instituições, construir uma marca, afirmar uma identidade, conseguir depois também uma afirmação Internacional num meio bastante seletivo, como este dos festivais de música erudita. Não é uma coisa que se improvise e, portanto, estamos muito empenhados em que ele realmente possa sobreviver” sublinha José António Falcão.