Nem mais um ano de vingança, nem mais cem anos de solidão
07-09-2017 - 15:42
 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez

Num discurso em que citou Gabriel García Márquez, Francisco assegurou aos colombianos que não estão sozinhos na caminhada pela paz que há tantos anos lhes foge.

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Foi com referências literárias ao mais famoso autor colombiano que o Papa Francisco assegurou as autoridades daquele país que não estão sós na busca da paz.

O Papa deixou claro, assim, no discurso que fez esta quinta-feira de manhã, no primeiro dia completo da sua visita à Colômbia, que o processo de paz que poderá pôr fim a mais de 50 anos de guerra civil que o moveu a aceitar o convite para visitar o país.

Francisco citou o discurso de Gabriel García Márquez quando foi receber o Prémio Nobel, em 1982: “Perante a opressão, o saque e o abandono, a nossa resposta é a vida. Nem os dilúvios nem as pestes, nem as carestias nem os cataclismos, nem mesmo as guerras sem fim durante séculos e séculos conseguiram reduzir a vantagem tenaz da vida sobre a morte. Uma vantagem que cresce e progride”, disse então o autor, concluindo com apelos a uma utopia “onde ninguém possa decidir pelos outros até a forma de morrer, onde seja verdadeiramente certo o amor e seja possível a felicidade, e onde as estirpes condenadas a cem anos de solidão tenham, por fim e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra”.

Pegando na ideia dos “Cem anos de Solidão”, título de um dos livros mais famosos de García Marquez, Francisco disse: “O tempo gasto no ódio e na vingança é muito... A solidão de estar sempre uns contra os outros já se conta por decénios e aproxima-se dos cem anos; não queremos que qualquer tipo de violência restrinja ou suprima nem mais uma vida.”

E deixou a garantia: “Quis vir aqui para vos dizer que não estais sozinhos, que somos muitos aqueles que vos queremos acompanhar nesta etapa; esta viagem quer ser um incentivo para vós, uma contribuição que aplane de algum modo o caminho para a reconciliação e a paz.”

Mas para que o processo de paz seja bem-sucedido, disse Francisco, é essencial que “no centro de toda a acção política, social e económica, se coloque a pessoa humana, a sua sublime dignidade e o respeito pelo bem comum. Que este esforço nos faça esquivar de toda a tentação de vingança e busca de interesses apenas particulares e a curto prazo”.

Antes, o Papa já tinha elogiado a biodiversidade da Colômbia, dizendo que ela nos recorda da importância de preservar a criação e recordado às autoridades daquele país sul-americano que “a desigualdade é a raiz dos males sociais”.

O Papa chegou na quarta-feira à Colômbia e permanece no país até domingo, dia em que regressa a Roma, onde chega na segunda-feira.


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A Renascença na Colômbia com o Papa Francisco. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa