O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) disse esta quinta-feira que 80% dos médicos de Medicina Interna do Hospital Distrital de Santarém (HDS) entregaram minutas de escusa de responsabilidade, dadas as "situações muito preocupantes" que se vivem naquele serviço.
Em comunicado divulgado hoje, o SIM afirma que se reuniu com os médicos do HDS, tendo sido "descritas situações muito preocupantes que põem em risco a qualidade dos cuidados prestados e a segurança de utentes e médicos".
"A crise existente no Serviço de Medicina Interna do HDS é antiga e já tinha motivado vários alertas ao Conselho de Administração (CA). Infelizmente, tal como antecipado, a situação agravou-se", lê-se no comunicado.
Além da falta de médicos internistas, o sindicato aponta a escassez de assistentes hospitalares de Medicina Interna, "manifestamente insuficientes em número para permitirem a constituição diária, de acordo com as "leges artis", das equipas de Serviço de Urgência (SU) bem como do necessário acompanhamento dos doentes internados no horário disponível para tal".
Sublinhando que o serviço de Medicina Interna "não se esgota na Urgência externa e no internamento, assegurando também outras valências como sejam a consulta externa, hospital de dia e urgência interna", o SIM afirma que as "falhas/faltas nas escalas desta última sobrecarregam ainda mais a equipa" do Serviço de Urgência (SU).
"As escalas de SU, já de si frequentemente deficitárias, são ainda agravadas pela necessidade de serem os elementos destas equipas a muitas vezes assegurarem os transportes inter-hospitalares", acrescenta.
Por outro lado, afirma que a falta de médicos de outras especialidades nas Urgências, nomeadamente de Ortopedia, sobrecarrega ainda mais a equipa de Medicina Interna.
O sindicato acusa, ainda, o Conselho de Administração do HDS de criar "artifícios" para "se furtar a cumprir a lei e pagar horas extraordinárias", através de "bancos de horas", que, "por não estarem previstos na lei, desaparecem da contabilidade hospitalar".
Para o SIM, dada "a ausência de respostas eficazes aos alertas emitidos e o agravamento mantido da situação do Serviço de Medicina Interna", o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) deve ser avisado, bem como as unidades do Serviço de Nacional de Saúde com as quais o HDS trabalha em rede, "para mitigar a sobrecarga com que a equipa de Medicina lida quase permanentemente".
O HDS anunciou hoje que tem abertas candidaturas para 10 vagas carenciadas para médicos (com bonificação salarial) nas especialidades de anestesiologia, dermatovenereologia, gastrenterologia, medicina interna, pneumologia, psiquiatria e psiquiatria da infância e da adolescência.
A carência de profissionais no HDS, sobretudo de médicos de Medicina Interna, de Ortopedia e de Anestesiologia, entre outros, bem como de médicos de família na região, levou a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) a pedir, em 2022, uma reunião com o ministro da Saúde.
Manuel Pizarro esteve reunido com os autarcas no passado dia 07 de março, tendo ficado agendado novo encontro para o próximo dia 15, no qual o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves (PSD), disse esperar que sejam apresentadas "soluções em concreto".
Ricardo Gonçalves declarou, na altura, que esperava ouvir o ministro da Saúde dizer, "por exemplo, quando é que arranja médicos anestesistas", já que o Hospital Distrital de Santarém "devia ter 20 e tem oito", na Medicina Interna tem 19 médicos e devia ter 40 e, em Ortopedia, devia ter 14 e tem cinco, havendo falta de profissionais em várias outras especialidades.
"Não nos disse quando é que arranjará esses médicos. Há problemas graves. Se faltarem anestesistas se calhar 30 a 40% das operações são adiadas e a população sofre com isto", declarou.