Há mais de quatro décadas a fazer visitas aos estabelecimentos prisionais, o padre João Gonçalves, coordenador da Pastoral Penitenciária, é claro.
"A recuperação dos reclusos não depende apenas do sistema penitenciário", defende em entrevista à Renascença. "A prisão faz o que pode com educadores e psicólogos, trabalho e escola."
Lembrando que "um preso faz parte da sociedade, está privado da liberdade durante um tempo, mas depois regressa’, o padre João Gonçalves constata, com pesar, que muitas vezes os reclusos são abandonados pelas famílias entre muros.
"Desaparecem os laços de afetividade, não há visitas e é duro ver os outros a recebê-las", sublinha. E quando são libertados, essa ligação familiar está perdida e não há zona de conforto nem acolhimento.
À Renascença, o padre João Gonçalves revela também que as paróquias, que acolhem grande parte das comunidades, "deviam ver quem está preso", perceber "porquê e do que precisam", em vez de "rejeitar essas pessoas". O coordenador da Pastoral Penitenciária considera que é preciso olhar para estas pessoas de forma diferente porque precisam de ser ajudadas.
Além das paróquias, também a comunidade laboral, as empresas, podem ajudar. "Uma fábrica, um restaurante ou um café, aqui os ex-reclusos deviam ser melhor acolhidos, embora muita gente precise de trabalho, deve ajudar-se estas pessoas que estão fragilizadas."
"Infelizmente", acrescenta o coordenador, os ex-reclusos "ouvem frequentemente coisas como 'Estiveste na cadeia? O que fizeste nos últimos anos?’ ou [lidam com] pessoas que denunciam ‘Tens aqui a trabalhar alguém que esteve na cadeia’", acabando o ex-recluso por ser despedido no final desse dia de trabalho.
O Coordenador da Pastoral Penitenciária alerta para o facto de a reabilitação de quem comete crimes não caber apenas às prisões, sendo as famílias, as empresas e as paróquias motores importantes de dinamização e reintegração destas pessoas na sociedade.