São uma centena de personalidades. Mais uma. A 101ª é o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que dá o seu alto patrocínio a uma iniciativa proposta por 100 nomes de várias áreas da sociedade portuguesa: organizar uma “jornada de memória, luto e afirmação da esperança” que lembre as vítimas da pandemia de Covid-19, mas também preste homenagem aos cuidados e seja uma afirmação de vontade de viver em comunidade.
“Em memória do que cada um viveu, para sublinhar o luto coletivo, afirmar a esperança que nos move e homenagear as vítimas da pandemia, um grupo de cidadãos, constituído em Comissão Promotora, entende ser necessário e oportuno propor a organização de uma iniciativa cívica, de âmbito simultaneamente nacional e local, que vá ao encontro das preocupações aqui enunciadas”, escrevem os promotores num texto enviado à Renascença e publicado nos diários "Público" e "Jornal de Notícias".
Quanto às preocupações enunciadas, começam por ser com a “amplitude da tragédia” que esta pandemia trouxe ao mundo e que, embora pareça neste momento atenuada no mundo ocidental, ainda não está controlada. “Os entraves à libertação das patentes e a falta de solidariedade internacional fazem com que uma grande parte da humanidade, sobretudo dos países do hemisfério sul, continue a sofrer e a morrer de forma dramática com a covid-19”, escrevem os promotores deste manifesto promovido pelos jornalistas António Marujo e Jorge Wemans e subscrito por médicos, atores, escritores, deputados, músicos e representantes de várias religiões.
“Mesmo nos países ditos desenvolvidos a situação de algum controlo dos aspetos sanitários mais gravosos da pandemia, a que estamos a chegar, pode considerar-se precária, porque é sistémica: só estaremos seguros contra a covid-19 quando, a nível do planeta, todos estiverem seguros”, prossegue o texto que faz referência aos 900 mil infetados por Covid em Portugal e às mais de 17 mil vítimas mortais. Mas que também pretende homenagear os profissionais que trabalharam na linha da frente do combate à doença e os que permitiram que o país continuasse a funcionar.
“Fazer o luto comunitário é imprescindível. Numa pandemia, há uma dimensão coletiva e comunitária do luto que não resulta apenas do somatório dos lutos individuais ou familiares. Há um luto comunitário que precisa de ser feito, porque a tragédia que eclodiu e o trauma que ela originou são sociais e globais”, defendem.
“Afirmar a esperança é igualmente necessário. Esperança no reforço de relações sociais fraternas, justas e portadoras de futuro para todas e todos, conscientes do risco que existe de regresso ao velho normal. Esperança por estarmos mais preparados para enfrentarmos juntos os desafios da pós-pandemia e outros que se nos coloquem. Esperança fundada nos atos de solidariedade, dedicação e atenção de que fomos atores e testemunhas ao longo deste longo ‘inverno’”, continua o manifesto que propõe a “Jornada nacional Memória &Esperança 2021”.
Esta jornada “visa mobilizar a sociedade portuguesa e suscitar a participação de todas as pessoas e instituições que o desejarem”, lê-se no primeiro dos 15 pontos que pretendem concretizar a proposta que deve marcar o fim-de-semana de 22, 23 e 24 de outubro deste ano e deve ter uma cerimónia de âmbito nacional e múltiplas iniciativas locais ou setoriais. Para articular e publicitar todas as iniciativas será criado o site memoriaeesperanca.pt.
Entre as várias atividades propostas está a possibilidade de as igrejas tocarem todas os sinos à mesma hora de um mesmo dia e as famílias colocarem uma vela num espaço publico ou privado, mas que seja visível. Mas é também deixado o desafio para que autarquias, instituições, meios de comunicação social e agentes culturais se juntem com criatividade a esta iniciativa.