Veja também:
As cerimónias de inauguração dos Presidentes dos Estados Unidos têm tradicionalmente uma carga religiosa importante e a de Joe Biden não foi exceção.
O dia do novo Presidente começou com uma missa às 8h45 na Igreja de São Mateus, em Washington, onde foi acompanhado por vários líderes políticos de ambos os partidos. Mais tarde seguiu para o Capitólio, onde decorreu a cerimónia de inauguração, que contou com dois momentos específicos de oração, um a abrir, proferido pelo padre Leo Donovan e outro, a fechar, proferido pelo pastor evangélico Silvester Beaman.
Na sua reflexão, Donovan, que conhece Joe Biden desde os seus tempos na Universidade de Georgetown, evocou o exemplo do Rei Salomão, uma figura do Antigo Testamento considerada um modelo de bom Governo.
“Para o nosso novo Presidente pedimos a sabedoria procurada por Salomão quando se ajoelhou e rezou por um coração compreensivo para poder governar o seu povo e saber a diferença entre o bem e o mal”, disse o padre jesuíta.
A oração de Donovan teve notas de uma corrente cristã conhecida como “excecionalismo americano” - que defende que os Estados Unidos foram destinados por Deus a desempenhar um papel especial no mundo - evidentes na sua alusão ao país como “uma luz para as nações” e à equiparação do amor ao patriotismo.
“Há um poder em cada um, que vive de se abrir aos outros. Um impulso do espírito para estimar, cuidar e estar ao lado dos outros, sobretudo os que mais precisam. Chama-se amor e o seu caminho é o de dar-se cada vez mais. Hoje chama-se patriotismo americano, nascido não do poder e do privilégio, mas do cuidado pelo bem-comum, sem malícia para com ninguém e com caridade para todos.”
O sacerdote também citou o Papa Francisco que, disse, “lembra-nos da importância de sonhar juntos. Sozinhos, escreveu ele, arriscamo-nos a ver miragens, coisas que não existem, mas os sonhos são construídos em conjunto.”
E terminou pedindo a Deus, “ajude-nos, debaixo deste novo Presidente, a reconciliar o povo da nossa terra, a restaurar o nosso sonho, a investi-lo de paz, justiça e da alegria que é a abundância do amor”.
As referências religiosas continuaram no discurso de Biden, já depois de ter sido empossado como 46.º Presidente dos Estados Unidos e este chegou mesmo a citar Santo Agostinho, “um santo da minha Igreja” e que descreveu a nação como “uma multidão de seres racionais, unidos pelos objetos comuns do seu amor”. Segundo Biden, os objetos comuns do amor dos americanos são “a oportunidade, a segurança, a liberdade, a dignidade, o respeito a honra e a verdade”.
Antes de terminar o seu discurso Biden citou ainda a Bíblia, nomeadamente o Salmo 30. Depois de elencar os vários desafios que o país enfrenta, recordou que “o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria”.
Mensagem papal
Como é habitual, vários líderes de diferentes países enviaram mensagens de parabéns a Biden pela ocasião da sua inauguração. O Papa Francisco também o fez, assegurando o Presidente da sua oração “que Deus todo poderoso vos conceda a sabedoria e a força para o exercício do vosso alto cargo”.
“Que, debaixo da vossa liderança, o povo americano continue a buscar forças dos valores políticos, éticos e religiosos altivos que têm inspirado a nação desde a sua fundação”, escreve ainda Francisco
“Numa altura em que as graves crises que enfrentam a nossa família humana pedem respostas unidas e de longo prazo, rezo para que as vossas decisões sejam guiadas pela preocupação pela construção de uma sociedade marcada pela verdadeira justiça e liberdade, juntamente com um respeito incessante pelos direitos e a dignidade de todos, sobretudo dos pobres, dos vulneráveis e dos que não têm voz.”
O Papa concluiu a sua mensagem invocando “sobre si e sobre a sua família e sobre o amado povo americano a abundância das graças de Deus”.
Joe Biden é apenas o segundo católico a assumir o cargo de Presidente dos Estados Unidos. O chefe de Estado diz que a religião é uma dimensão muito importante da sua vida, mas defende algumas posições, nomeadamente no que diz respeito a causas fraturantes como o aborto e a homossexualidade, que são contrárias à doutrina da Igreja, tendo levado a Conferência Episcopal americana a criar uma comissão especial para avaliar se o Presidente deve ser admitido aos sacramentos ou não.
Noutros temas, porém, Biden tem posições mais em linha com a Igreja, nomeadamente em relação à imigração e à pena de morte.