O dia 63 da guerra na Ucrânia fica marcado pela visita do secretário-geral das Nações Unidas ao país. António Guterres tem uma reunião marcada para esta quinta-feira, com o presidente Volodymyr Zelenskiy, em Kiev, para onde viajou de automóvel.
O secretário-geral da ONU fez uma longa viagem desde Cracóvia, na Polónia, até Kiev. São cerca de 900 quilómetros percorridos de carro em 11 horas.
Em declarações aos jornalistas portugueses, sobre as condições para a retirada de civis da fábrica de Azovstal, o último reduto dos combatentes ucranianos na cidade portuária de Mariupol, António Guterres afirmou que o objetivo seria avançar com a evacuação na próxima sexta-feira.
“O nosso objetivo é sexta-feira. Mas não posso garantir porque estamos ainda a discutir as modalidades”, disse o secretário-geral da ONU, sublinhando que “é preciso que as condições sejam criadas para assim o fazermos”.
“Esta evacuação é particularmente delicada”, disse Guterres, salientando que existem “pessoas que estão dentro de uma fortaleza subterrânea em condições verdadeiramente dramáticas”, referindo-se à fábrica de Azovstal.
“Mas há aqui um problema de confiança. Confiança das pessoas, de que podem sair, e confiança de que isto não é utilizado indevidamente por outros atores. Esta operação tem de ser feita com muita delicadeza”, acrescentou.
Guterres adiantou que “neste momento estão a decorrer negociações entre as Nações Unidas, o CCR, o Ministério da Defesa russo e aqui também as autoridades ucranianas, no sentido de ver as modalidades concretas para a evacuação”.
O secretário-geral da ONU confirmou ainda que após a sua visita de terça-feira a Moscovo “houve um princípio de acordo” com o presidente russo, Vladimir Putin, “e ficou acordado que os detalhes [da evacuação de Azovstal] seriam discutidos nestas reuniões”.
Da Rússia chegam novas ameaças ao Ocidente. Vladimir Putin, alertou esta quarta-feira que quaisquer países que tentarem interferir na Ucrânia enfrentarão uma resposta "relâmpago" por parte da Rússia.
"Se alguém de fora tentar intervir na Ucrânia, a nossa resposta será rápida como um relâmpago", disse Putin a deputados em São Petersburgo.
"Temos todas as ferramentas [para responder] das quais ninguém se pode gabar. E não nos vamos gabar delas, vamos usá-las se necessário. E quero que todos o saibam", alertou o presidente russo, referindo-se ao novo míssil hipersónico, já testado, com capacidade para atingir território da Europa ocidental e dos Estados Unidos.
O líder russo adiantou que todas as decisões sobre como Moscovo reagiria nessa situação já foram tomadas, mas não deu mais detalhes.
O líder do Kremlin voltou a acusar o Ocidente de transformar a Ucrânia numa "anti-Rússia" e de pressionar Kiev a combater com o seu vizinho do norte; de atacar a anexada península da Crimeia e a região do Donbass; de possuir armas nucleares e ter em funcionamento laboratórios para produção de armas químicas e biológicas.
Entretanto, a ONU confirmou esta quarta-feira que pelo menos 2.787 civis morreram e 3.152 ficaram feridos na guerra da Ucrânia, 63 dias após o início da invasão russa, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores.
Das vítimas mortais confirmadas pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), 202 são crianças, e há também 302 crianças entre os feridos, de acordo com as estatísticas diariamente atualizadas.
A ONU teme que os números de vítimas da guerra na Ucrânia, aumentem consideravelmente quando houver maior acesso a cidades cercadas ou sob intensos combates.
Mais de 5,3 milhões de refugiados
Enquanto sobem de tom as ameaças, os números mais recentes das Nações Unidas revelam que mais de 5,3 milhões de ucranianos fugiram do país desde o início da invasão da Rússia, a 24 de fevereiro. A ONU prevê que o número chegue aos 8,3 milhões até ao final do ano.
Segundo os dados mais recentes revelados neste dia pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), 5.317.219 ucranianos já deixaram o país. Nas últimas 24 horas, foram mais 52.452 pessoas que abandonaram o país.
Neste que é o maior fluxo de refugiados desde a II Guerra Mundial, cerca de 90% destas pessoas que fugiram do país são mulheres e crianças.
Para além dos refugiados, há mais de 7,7 milhões de deslocados internos, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações.
Ucrânia alerta. Aproximam-se “semanas extremamente difíceis"
O dia chega ao fim com mais um aviso que chega da Ucrânia. Estão para chegar "semanas extremamente difíceis", segundo o ministro ucraniano da Defesa, Oleksiy Reznikov que, em comunicado, volta a pedir aos ucranianos “resiliência e união” após mais de dois meses de conflito com a Rússia.
Isto, enquanto a Comissão Europeia (CE) se desdobra em medidas para aliviar o sofrimento dos ucranianos. Já esta tarde, o presidente Volodymyr Zelensky, revelou no Telegram que a CE decidiu “remover todos os direitos e quotas sobre as exportações ucranianas por um ano, bem como suspender as tarifas antidumping”.
Zelensky agradeceu à Comissão Europeia, sublinhando que “neste momento, isso nos permitirá manter a atividade económica máxima na Ucrânia, a nossa produção nacional”.
A proposta hoje apresentada pela Comissão Europeia precisa agora de ser considerada e aprovada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da UE.
Esta quarta-feira foi, também, marcada pelas reações ao anúncio da Gazprom, que cortou o fornecimento de gás à Polónia e à Bulgária, como retaliação por estes países não pagarem as faturas em rublos, como exige Moscovo em resposta às sanções ocidentais.
Na reação, o Presidente polaco, Andrzej Duda já disse que o país acolheu "tranquilamente" o corte de gás natural russo e anunciou que as empresas afetadas pela "violação de contratos" agirão judicialmente contra a Rússia.
Já a presidente da Comissão Europeia sublinhou esta quarta-feira que o pagamento de gás russo em rublos é uma violação das sanções aplicadas pela União Europeia à Rússia, na sequência da invasão da Ucrânia.
"Se não está previsto nos contratos [para compra de energia à Rússia] o pagamento em rublos, é uma violação das nossas sanções", disse Von der Leyen, em declarações à imprensa.
A líder do executivo comunitário esclareceu ainda que "a decisão da Rússia de pedir pagamentos em rublos é unilateral e as empresas que têm contratos [com fornecedores russos] não devem ceder a estas exigências".
"Tal seria uma violação das sanções e um grande risco para as empresas", salientou também, respondendo a uma questão sobre dez Estados-membros que terão acedido a pagar em rublos o fornecimento de gás.
Ursula von der Leyen assegurou também que a União Europeia está a trabalhar há meses para acabar com a sua dependência energética da Rússia "de uma vez por todas".