Membro do partido do Brexit, eleito em maio para o Parlamento Europeu, Rupert Lowe abandona Bruxelas satisfeito com o desfecho do Brexit e estará em Londres esta sexta-feira para celebrar a saída da União Europeia (UE).
Agricultor e homem de negócios, em entrevista à Renascença diz acreditar que o país pode "prosperar e florescer" fora do bloco comunitário e que outros países poderão seguir o exemplo britânico. E os portugueses? "Continuam a ser bem-vindos" ao Reino Unido, responde.
O que significa para si este dia, 31 de janeiro?
Significa que vamos deixar a União Europeia, mas continuamos a fazer parte da Europa como sempre fizemos. O Reino Unido sempre desempenhou um grande papel na Europa. Estamos geograficamente muito perto da Europa e com a Rússia desempenhámos muitas vezes um equilíbrio de poderes quando a França e a Alemanha tentaram dominar a Europa. Sempre desempenhámos o nosso papel.
"Salvámos a libra em 1997 e, 23 anos depois, vamos salvar o nosso país, concluir acordos de comércio livre com a UE e outras partes do mundo"
Desde meados dos anos 70, quando aderimos à UE, sempre desempenhámos o nosso papel. Agora, o povo britânico decidiu que quer ser uma nação soberana com o seu próprio Governo e as suas leis, e poder concluir os seus próprios acordos comerciais. Continuaremos a pertencer à Europa, mas enquanto nação soberana. Espero que todos tenhamos o respeito e a decência de trabalhar para termos boas relações com a UE.
Acha então que um dia a História dará razão aos defensores do Brexit?
Acho que há muitos países a olhar para nós. Porque o conceito de um super-Estado europeu está hoje ultrapassado. Poderá ter sido um conceito apropriado no pós-guerra, mas agora temos a revolução digital que está a libertar o indivíduo. Há países na Ásia com crescimento muito rápido, como a Índia, Indonésia, China. São todos países onde há um real crescimento [económico] a acontecer. Penso que, se organizarmos um Brexit que serve bem as pessoas, sim, vamos prosperar, vamos florescer e outros povos na Europa vão seguir-nos. Aprecio a ideia de que vamos salvar a Europa de si própria mais uma vez.
Então [o Brexit] pode ser o princípio do fim da União Europeia?
Pessoalmente, não acho que o euro seja sustentável. É uma experiência não sustentável do ponto de vista económico que foi introduzida por imperativos políticos. Tentaram encontrar uma moeda única porque o projeto político estava a falhar. Não vejo o euro a sobreviver. Estive com o Partido do Referendo em 1997 e salvámos a libra, porque íamos aderir ao euro. Vinte e três anos depois, não vamos salvar a nossa moeda, que já está salva, mas salvar o nosso país, concluir acordos de comércio livre com a União Europeia e outras partes do mundo.
Não vejo nenhum futuro para um bloco europeu protecionista. Não sou como o sr. Verhofstadt [eurodeputado liberal belga pró-UE] que fala de impérios. Não temos impérios, mas indivíduos a serem libertados por esta bela tecnologia e pelas comunicações que temos. O que significa que a comunicação corre livre por todo o lado e recompensa as pessoas que são rápidas, inteligentes e com boa previsão.
O planeamento centralizado nunca funcionou. Veja o comunismo, falhou numa geração. Penso que a UE está a envelhecer e, quando o euro finalmente se for, cairá. Penso que o povo britânico tomou a decisão certa e queremos implementá-la. O que não podemos fazer é continuar a ser parte da UE. Temos de abandonar [o bloco] e recuperar a nossa soberania, controlar a nossa moeda, as nossas fronteiras, o comércio. Temos de fazer tudo o que é do nosso interesse.
Qual é a sua mensagem para os portugueses que apreciam o Reino Unido, que estão desapontados e que não querem o Brexit?
Bem, há muitos amigos meus que vão viver para Portugal, porque dá vantagens fiscais fantásticas aos britânicos que estão reformados e porque querem desfrutar do sol e da cultura que vocês têm em Portugal.Vocês também têm uma bela cultura. Como a Holanda, que é outra potência vizinha, Portugal, Espanha... Há muitos interesses comuns entre estes países.
Não é por nos tornarmos uma nação soberana que os portugueses deixam de ser bem-vindos ao Reino Unido. E espero que seja possível visitarmos e vivermos em Portugal se as pessoas assim o desejarem. Gostamos muito dos portugueses, os britânicos sempre tiveram relações com os portugueses e espero que isso continue.
Sempre houve cooperação antes da UE. A UE gosta de reivindicar todos os louros pela manutenção da paz, mas na realidade isso deve-se muito aos americanos e aos britânicos. A América e o Reino Unido, através do Plano Marshall, lançaram as bases da Comunidade do Carvão e do Aço que acabou por se transformar na União Europeia. A vida segue em frente. Isto foi em 1947, agora estamos em 2020. E o mundo é um belo lugar.