O antigo Presidente francês Nicolas Sarkozy foi condenado esta segunda-feira pelos crimes por corrupção ativa e tráfico de influências, no âmbito do mediático caso das “escutas”.
Sarkozy foi condenado a três anos de prisão, com dois de pena suspensa, e já anunciou que vai recorrer da sentença.
Após este "julgamento extremamente severo" e "totalmente infundado e injustificado", Nicolas Sarkozy "está calmo mas determinado em prosseguir a sua demonstração de inocência", assegurou a advogada Jacqueline Laffont.
O antigo Presidente, que esteve presente na audiência, não foi detido e enviado para uma cela. O tribunal autorizou que permaneça em casa com pulseira eletrónica.
É o culminar de um processo que começou há seis anos, quando o antigo Presidente foi acusado de prometer cargos importantes a um juiz em troca de informações sobre uma investigação à campanha presidencial de Sarkozy em 2007.
Além de Sarkozy, foram também acusados pelos crimes o seu advogado, Thierry Herzog, e o juiz Gilbert Azibert. Os três foram acusados de terem combinado uma troca de favores entre Presidente e juiz: segundo a justiça francesa, Sarkozy e Herzog terão prometido a Azibert um cargo no Mónaco como consultor jurídico e pediram, em troca, que Azibert fornecesse informações sobre uma investigação separada em torno do financiamento ilegal da herdeira da L’Oreal, Liliane Bettencourt, à campanha presidencial de 2007 (campanha que acabou por ser vitoriosa).
O processo, conhecido em França como o caso das “escutas”, começou devido a conversas suspeitas entre Sarkozy e Herzog, gravadas entre 2013 e 2014. As escutas telefónicas foram feitas no âmbito da investigação ao tal financiamento ilegal à campanha de Sarkozy, mas acabaram por revelar a promessa de promoção para Gilbert Azibert.
Durante as escutas, Nicolas Sarkozy usou o pseudónimo de “Paul Bismuth”. Segundo a procuradora Celine Guillet, não havia dúvidas que Sarkozy tinha demonstrado intenções de corromper Azibert durante as gravações.
Os três réus negaram sempre as acusações. A acusação pediu quatro anos de prisão para o antigo Presidente (dois deles em prisão efectiva).
Com a sentença desta segunda-feira confirmada, Sarkozy sai do Tribunal de Paris como o segundo Presidente francês a ser condenado a uma pena de prisão, mas o primeiro a estar presente no julgamento e o primeiro por corrupção ativa – antes, em 2011, o seu antecessor Jacques Chirac fora condenado a dois anos de pena suspensa num caso de empregos fictícios, mas o seu estado de saúde impediu-o de comparecer em tribunal.
Investigações começaram após saída do Eliseu
Nicolas Sarkozy foi Presidente da França entre 2007 e 2012. Planeava estar pouco tempo fora do Eliseu, mas o ex-chefe de Estado viu-se rapidamente a braços com vários processos na justiça francesa.
A investigação sobre o alegado financiamento ilegal à sua campanha pela herdeira da L’Oreal não deu em nada e o ex-Presidente foi ilibado. Mas estão ainda por explicar os 50 milhões de euros transferidos da Líbia para a sua campanha de reeleição de 2012, quando o ditador Muammar Kadhafi ainda estava no poder.
Segundo a investigação do site Mediapart, Nicolas Sarkozy terá alegadamente aceitado uma doação que corresponde ao dobro do financiamento permitido por lei para uma campanha. A investigação jornalística deu o lugar a uma judicial, que levou a uma acusação formal em 2013.
Em novembro de 2016, antes das eleições presidenciais de 2017 em que Nicolas Sarkozy era candidato ao regresso à Presidência, o Mediapart publicou um vídeo em que um empresário franco-libanês confessava entregar a Sarkozy cerca de cinco milhões de euros numa mala.
[notícia atualizada]