"O Tempo das Árvores" chega à Fundação de Serralves, no Porto, gravado em 30 esculturas de Paulo Neves, que dá "uma segunda vida" a troncos queimados ou cortados "pelo progresso", numa exposição patente até ao dia 30 de setembro.
Integrada na celebração dos 100 anos do Parque de Serralves, a exposição "Paulo Neves: O Tempo das Árvores", que abre ao público na sexta-feira, é uma "homenagem às incontáveis florestas queimadas", feita através do trabalho do artista em troncos de carvalhos, castanheiros e de um choupo, em exposição pelo parque, no Lagar e no Celeiro da Casa da Quinta do Parque de Serralves.
"Quando uma árvore morre pelo fogo não é só aquele ser vivo que morre, é todo um ecossistema completo", salientou a curadora da exposição, Manuela Hobler Kaempf, em conversa com os jornalistas.
O artista, por seu lado, explicou que "dá uma segunda vida a pedaços de troncos que arderam em incêndios, ou que foram cortados para abrir estradas".
Tomando as velhas árvores condenadas como material de base, transfigurou-as em mais de 30 peças, que são agora expostas.
No centro da exposição, estão duas raízes colossais, viradas ao contrário, que se afiguram "como cérebros gigantes queimados e com os seus nervos cortados, incapazes de comunicar", segundo o texto de apresentação da curadora.
Uma floresta de escadas surge em contraponto, como "filigranas que crescem para o céu infinito, como braços alongados, erguidos em alegria e esperança".
"Líneas rítmicas", esculpidas pelo artista, surgem noutras esculturas "que percorrem a superfície ao longo dos galhos e criam assim uma espécie de nova casca suave, quase aveludada", embora o interior se mantenha "cru e áspero em contraste com o exterior".
"As formas lembram um abraço, suave e elegante, num jogo de luz e sombra", afirma Manuela Hobler Kaempf.
Numa outra parte da exposição, podem ver-se esculturas que apresentam "um corte rugido" entre a superfície clara e polida do interior dos troncos com a casca escurecida, sublinhando "o interior luminoso da madeira, rico em inconfundíveis traços desenhados pelo tempo", lê-se no texto de apresentação da mostra.
"Eram árvores mortas, que já não tinham vida e agora têm outra vida", disse o artista, em conversa com os jornalistas, confessando-se "muito satisfeito" com o resultado do trabalho agora exposto.
"Temos troncos de castanheiros de Trás-os-Montes, carvalhos da minha terra, Corujões [concelho de Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro], e um choupo" formam a matéria-prima, disse o artista.
"Desde o início da sua carreira, Paulo Neves desenvolve uma linguagem pessoal e inconfundível", num "um caminho enraizado na tradição antiga da escultura", lê-se nas páginas de Serralves, de apresentação da mostra.
"A sua obra nasce de uma espiritualidade profunda, de respeito e amor pela natureza e da procura de pureza e harmonia. Os primeiros trabalhos tiveram origem em pedaços de lenha, e a madeira manteve-se até hoje o material de eleição para a criação da sua obra", descreve a curadora.
Nascido em 1959, Paulo Neves está representado em diversas coleções portuguesas e dos Estados Unidos, França, Espanha, Brasil, Países Baixos, Bélgica, Roménia, Austrália, Marrocos e Alemanha.