“Vejo aqui crianças e lembro-me da expressão de um homem com quase 60 anos que, face ao inverno demográfico italiano afirmou: Quem vai pagar a minha pensão? Não serão os cachorrinhos que as pessoas têm em vez dos filhos!”. Quem o diz é o Papa Francisco, preocupado com o futuro das novas gerações e a falência dos serviços de previdência.
Numa audiência, realizada esta segunda-feira de manhã, com os responsáveis italianos do Instituto Nacional da Segurança Social, o Santo Padre considerou que “a sociedade parece ter perdido o seu horizonte de futuro: instalou-se no presente e pouco lhe interessa o que pode acontecer às gerações vindouras. ‘Eu cá faço a minha parte, eles que se arranjem'. Assim, não dá”, afirmou.
Sinais preocupantes manifestados pelo Papa são a crise ecológica e a dívida pública, que estão a carregar os ombros dos mais novos. “E pensar que, em alguns países, os netos vão nascer com uma dívida pública, é terrível! A escolha da sustentabilidade é o que responde ao princípio que considera injusto confiar aos jovens fardos irreversíveis e demasiado pesados”, acrescentou.
O Papa sublinhou que “um forte vínculo entre as gerações é o pressuposto para que a Segurança Social funcione” e explicou que a vida social se deve suportar em "redes comunitárias de apoio”, pois o bem comum “passa pelo trabalho diário de milhões de pessoas que compartilham o princípio da solidariedade entre os trabalhadores”.
Neste contexto, Francisco lançou três apelos. “O primeiro apelo é um não ao trabalho clandestino” e fez votos para que esta consciência "se torne na cultura do não ao trabalho ‘negro’”, porque este “distorce o mercado de trabalho e expõe os trabalhadores a formas de exploração e injustiça”.
O segundo apelo do Papa é um “não ao abuso do trabalho precário, que incide nas escolhas de vida dos jovens e, por vezes, obriga-os a trabalhar mesmo quando lhes faltam as forças”.
Para o Papa, a precariedade “deve ser transitória, não pode arrastar-se excessivamente, senão acaba por gerar desconfiança, favorece o adiamento das escolhas de vida dos jovens, distancia a entrada na Segurança Social e aumenta a queda da natalidade”.
Por fim, o terceiro apelo “é um sim ao trabalho digno, que é sempre livre, criativo, participativo e solidário. Pôr de lado recursos económicos e garantir o acesso à saúde são bens preciosos que sabem conciliar as diferentes fases da vida”, acrescentou.
Em jeito conclusivo, o Santo Padre reconheceu que “precisamos de políticos sábios, guiados pelo critério da fraternidade e que saibam discernir entre as estações da vida, evitando desperdiçar os recursos e deixar as gerações futuras em sérias dificuldades”.