Uma menina de sete anos foi morta na cidade de Mandalay, em Myanmar (antiga Birmânia), quando as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes em mais um dia de protestos, tornando-se, assim, na mais jovem vítima da repressão após o golpe militar do mês passado.
Em declarações à BBC, a família de Khin Myo Chit afirmou que a criança foi morta pela polícia, quando corria em direção ao pai, durante uma operação em sua casa.
Segundo a irmã mais velha, os polícias que revistaram todas as casas do bairro, em Mandalay, entraram na sua casa com intuito de procurar armas e fazer prisioneiros.
“Eles pontapearam a porta para a abrir", disse May Thu Sumaya, de 25 anos, à BBC, acrescentando que, “quando a porta foi aberta, eles perguntaram ao meu pai se havia outras pessoas na casa. Quando ele disse não, eles acusaram-no de mentir e começaram a vasculhar a casa”.
Terá sido nesse momento que Khin Myo Chit correu até o pai. “Então eles [os polícias] dispararam e bateram-lhe”, contou May Thu Sumaya.
Já o pai, em declarações a órgãos de informação de Myanmar, afirmou que a sua filha “morreu meia hora depois de ter sido baleada”, quando era transportada de carro em busca de socorro médico.
Segundo a família da vítima, a polícia também “espancou e prendeu o filho de May Thu Sumaya de 19 anos.De acordo com a Save the Children, organização não-governamental de defesa dos direitos da criança no mundo, mais de 20 crianças estão entre as dezenas de pessoas mortas.
No total, os militares afirmam que 164 pessoas foram mortas em protestos, enquanto o grupo ativista da Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP) estima que o número de mortos se possa situar nos 261.
Os militares expressaram tristeza, na terça-feira, pela morte de manifestantes, culpando-os, no entanto, de serem os responsáveis pela “anarquia e violência” no país.
Até ao momento os militares ainda não comentaram a morte da criança de sete anos.
Em comunicado, a Save the Children mostrou-se “horrorizada” com a morte da menina, que aconteceu um dia depois de um menino de 14 anos ter sido morto a tiro em Mandalay.
“A morte dessas crianças é especialmente preocupante, visto que elas teriam sido mortas enquanto estavam em casa, onde deveriam estar protegidas de perigos. O facto de tantas crianças serem mortas, quase diariamente, mostra um completo desprezo pelos direitos humanos por parte das forças de segurança”, escreveu grupo.
A 1 de fevereiro, o exército do Myanmar prendeu a chefe do governo civil birmanês, Aung San Suu Kyi, o Presidente Win Myint e vários ministros e dirigentes do partido governamental, proclamando o estado de emergência e colocando no poder um grupo de generais.
Os militares tomaram o poder alegando irregularidades durante o processo eleitoral do ano passado, apesar de as autoridades eleitorais terem negado a existência de fraudes.