O aumento significativo do número de pessoas em fuga dos grupos armados que continuam a espalhar violência e morte na província moçambicana de Cabo Delgado, nomeadamente na região de Macomia, está a preocupar a Igreja.
O bispo de Pemba, D. Luiz Lisboa, e o bispo de Lichinga, D. Anastásio Canira, testemunharam, esta quarta-feira, a chegada em massa de deslocados ao bairro de Paquitequete, o principal ponto de desembarque dos deslocados na cidade capital de Cabo Delgado.
“Estão a chegar inúmeros barcos. Só hoje, este barco que está aqui é o oitavo,” disse D. Luiz Lisboa, numa mensagem divulgada pela diocese.
“A situação já era calamitosa e hoje não sei como a classificar”, afirmou o bispo de Pemba, apelando a “todos de boa fé a darem uma resposta possível no apoio aos irmãos que mais necessitam”.
Também o bispo de Lichinga manifestou a sua preocupação face à situação que classificou como “traumática”.
"Estou muito impressionado com essa situação, que eu interpreto como uma situação muito traumática, que até ultrapassa as capacidades humanas para acolher toda a multidão que está a fugir", afirmou D. Anastásio Canira.
De acordo com o padre Fonseca Kwiriwi, um dos responsáveis pela comunicação da Diocese de Pemba, “as coisas continuam feias” na região e “cresce cada vez mais” o número de deslocados que procuram acolhimento junto dos principais centros urbanos”.
Em declarações à Fundação AIS, o sacerdote nota que cidade de Pemba se transformou num porto de abrigo.
“Barcos sobrelotados, normalmente com mulheres e crianças, têm chegado a esta cidade costeira, agravando uma situação já muito frágil do ponto de vista humanitário”, refere o sacerdote, acrescentando que há pessoas que chegam a Pemba “em péssimas condições”.
O responsável pela comunicação da Diocese de Pemba conta que “num dos grupos de deslocados, registou-se o caso dramático de uma mulher que deu à luz na praia, depois de desembarcar de um barco com muita gente”.
Segundo a Diocese de Pemba desde sábado, dia 17 de outubro, calcula-se que cerca de 3 mil pessoas terão fugido de suas casas, perdendo tudo o que tinham, por causa dos ataques dos grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, o Estado Islâmico.
Perante o aumento no número de deslocados, “torna-se cada vez mais urgente mobilizar recursos para a Diocese ter também meios para socorrer com um mínimo de eficácia tantas pessoas de mãos vazias”, assinala a diocese.