Documentos oficiais divulgados este domingo pelo jornal “Sunday Times” alertam que uma saída do Reino Unido da União Europeia (UE) sem acordo vai implicar, possivelmente, um período de escassez de combustível, alimentos e medicamentos e o caos nos portos britânicos.
Segundo o relatório, as perturbações podem prolongar-se por seis meses, mas, de acordo com o ministro britânico Michael Gove, trata-se do “pior cenário” possível.
Gove acrescentou ainda que o documento era antigo e que o planeamento para o Brexit acelerou desde a nomeação de Boris Johnson para o cargo de primeiro-ministro, a 24 de julho. Porém, o governante admitiu, em declarações citadas pela BBC, que uma saída sem acordo não irá acontecer sem “obstáculos”.
Dadas as dificuldades que se colocam a uma renegociação do acordo fechado com Bruxelas pela ex-primeira-ministra Theresa May nas 10 semanas que faltam até 31 de outubro, data prevista para o Brexit, a possibilidade de uma saída sem acordo parece a mais provável.
É também possível que se verifique escassez de água, devido a possíveis interrupções na importação de químicos para o tratamento das águas.
Problemas na alfândega
O documento estima também que até 85% dos camiões que atravessam o Canal da Mancha "podem não estar preparados" para as formalidades das alfândegas francesas, o que provocaria longas filas que podem prolongar-se por dias e, consequentemente, graves perturbações no tráfego dos portos britânicos durante meses.
Cerca de 75% dos medicamentos chegam ao Reino Unido através do Canal da Mancha, o que "os torna particularmente vulneráveis a atrasos graves".
As dificuldades que se colocam ao Reino Unido em caso de Brexit sem acordo têm sido avaliadas regularmente em estudos académicos e de associações empresariais ou outras, mas têm sido repetidamente desvalorizadas e qualificadas de alarmistas pelos defensores da saída do país da UE.
O Governo britânico não respondeu a um pedido de comentário do jornal.
O ministro para o Brexit, Steve Barclay, assinou este domingo a ordem que revoga a Lei das Comunidades Europeias de 1972, que determinou a adesão do Reino Unido à então Comunidade Europeia e transferiu toda a legislação da UE para o direito britânico.
A ordem produzirá efeito quando o Reino Unido formalizar a saída da UE.
Em comunicado, o Governo britânico qualificou a assinatura de "passo histórico" na recuperação do poder nacional sobre a legislação.
"Estamos a assumir o controlo das nossas leis, como decidiram os britânicos no referendo de 2016", lê-se no comunicado.
Barclay frisou ainda que este passo "é um sinal claro" para todos os britânicos de que "não há volta atrás" e que o país vai sair da UE a 31 de outubro.