Quase 13 anos depois de Lisboa, o Banco de Leite humano chega finalmente à região norte. A inauguração do Banco de Leite Humano do Norte está marcada para esta segunda-feira, no Centro Hospitalar Universitário de São João, e conta com a presença do Provedor do Utente, D. Américo Aguiar.
É um investimento de 500 mil euros num equipamento que deverá “ter um elevado impacto social”.
A diretora clínica do Banco de Leite Humano do Norte, Maria João Batista, explicou, em entrevista à Renascença, as vantagens desta iniciativa e o seu impacto na qualidade de vida dos bebés cujas mães não dispõem de leite materno.
Esta é uma iniciativa que claramente beneficia a comunidade e beneficia os bebés que estão particularmente doentes e particularmente mais frágeis. "Era uma falha que nós tínhamos aqui na região norte do país e pensamos que vai ser seguramente uma atividade extremamente útil para a região", sublinha a responsável.
A pergunta é como é que será feita a recolha?
Temos uma série de mães de bebés saudáveis e as mães saudáveis também. Portanto, estes bebés têm que ter menos de seis meses. E estas senhoras têm que ter leite suficiente para alimentar o seu bebê e ainda haver um excedente.
Significa que já há voluntárias?
Já temos quatro dadoras, já que estão a doar o seu leite e temos várias pessoas que estão neste momento a ser submetidas a análises e avaliação médica para perceber se estão efetivamente em condições de segurança para darem o leito, para os seus bebês também poderem ter a participação da mãe neste projeto e se há condições depois do próprio leite para ser administrado a outros bebés.
Ou seja, quando se pergunta quem pode dar leite, já me respondeu ao afirmar que têm que cumprir certos e determinados requisitos….
Exatamente. Tem que ser uma mulher saudável que esteja a amamentar um bebé, que tenha menos de seis meses, que tenha leite suficiente para alimentar o seu bebé. Portanto, que o seu bebé esteja a crescer normalmente, que seja um bebé saudável e que a mãe esteja disponível para participar neste projeto de uma forma altruísta.
Costumo dizer que tenho dois irmãos de leite. Ou seja, a minha mãe usou do meu leite para ajudar a amamentar dois meninos da minha idade. Isto no final dos anos 60….
Essa é uma história que é absolutamente fabulosa. Desde a antiguidade que se sabe que, quando havia necessidade de uma criança ser amamentada e a sua mãe não tinha capacidade de amamentar, as outras mulheres da comunidade contribuíam muitas vezes para este contexto. Claro que nós, agora apresentamos um processo que é muito mais influenciado, muito mais sofisticado, de forma a garantir que todo o processo tenha a segurança necessária. É um processo que é muito mais controlado, como é evidente.
Onde será feita a recolha e depois onde será depositado o leite e conservado?
As mães dadoras são identificadas, avaliadas e submetidas a uma série de análises. Posto isto, a recolha de leite que a mãe faz é feita no seu domicílio, o leite é congelado no seu domicílio e depois a recolha é feita por uma equipa que avalia as condições em que o leite está a ser recolhido e a ser conservado. Essa equipa traz o leite para o Banco de Leite do Norte, que vai estar fisicamente situado no Hospital de São João. E este leite é depois aqui congelado, é submetido a processos de avaliação microbiológica para garantir que é um leite seguro e da qualidade, pois nós temos que ter a certeza é adequado para depois se administrar. O leite é também pasteurizado e depois redistribuído para os serviços de neonatologia do norte do país, que têm bebés internados que tenham necessidade deste produto. A ideia é por esta via ser criada uma rede que vai abarcar todos os serviços de neonatologia da região Norte do país que tenham esta necessidade.
Se calhar é fastidioso falarmos das vantagens deste banco?
Sim, as vantagens do banco público são evidentes e estão associadas à vantagem do leite para os bebés com mais risco e mais frágeis. E estes bebés são sobretudo os bebés prematuros e também bebés que têm doenças congénitas graves e que estejam internados em unidades de cuidados intensivos neonatais. O leite materno nós sabemos que é o leite ideal para o bebé e o leite mais adequado.
Quando a mãe não tem leite materno, a alternativa é utilizar outras fórmulas comerciais, mas sem dúvida alguma que a possibilidade de administrar o humano de doadoras é, sem dúvida alguma, aquela que confere mais proteção para o bebé. Porque este leite é mais bem tolerado do que as fórmulas comerciais e é o leite que permite que nós aumentemos a quantidade de alimentação que estamos a dar ao bebé com uma forma muito mais segura. E quanto mais leite humano o bebé tiver mais facilmente vai crescer, e com mais proteção. O leite humano diminui o risco de infeções e melhora francamente o desenvolvimento. Há estudos que demonstram que estes bebés têm um desenvolvimento neurológico do seu cérebro muito mais eficaz quando é ministrado o leite humano. Depois, curiosamente, mesmo a longo prazo, o que se verifica é que os bebés que são alimentados com leite de dadoras de leite humano são bebés que têm um melhor perfil lipídico, um melhor perfil de parâmetros cardiovasculares e, portanto, têm muito menos risco de virem a sofrer de doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, como alterações de colesterol, que os bebês que não são alimentados com o leite materno ou o leite humano.
Isto exigiu um investimento muito grande por parte, em particular do Centro Hospitalar de São João?
Este é um investimento que, em termos financeiros tem muito impacto. É um investimento de 500 mil euros, em equipamento que é absolutamente da mais elevada tecnologia que existe neste momento, mas que seguramente com aquilo que é a repercussão que vai ter em indicadores de qualidade de saúde, de saúde infantil é um instrumento que tem um elevadíssimo impacto social.