O antigo primeiro-ministro José Sócrates responde ao livro de Cavaco Silva e diz sentir “desprezo” por uma obra que, nas suas palavras, o ex-Presidente da República escreveu com “ressentimento”.
Num artigo de opinião publicado nas páginas do Diário de Notícias, José Sócrates classifica o livro como um “auto-retrato perfeito das consequências que o ressentimento pode ter carácter de um político, um livro com opiniões vulgares e exercícios de mesquinhez disfarçados de relato histórico”.
O ex-primeiro-ministro diz que não gostou de ver relatadas as reuniões privadas de quinta-feira com Cavaco Silva. “Nunca nenhum Presidente ou Primeiro-Ministro relatou as conversas tidas entre ambos enquanto exerceram funções. Há boas razões para isso, que vão da boa educação até ao necessário sentido de Estado”, refere.
Depois, Sócrates centra-se no chamado "episódio das escutas”. Sobre a reunião em que Sócrates falou com Cavaco sobre o tema, o ex-primeiro-ministro diz ter protestado por não ter visto desmentida uma grave acusação de escutas que o seu gabinete teria feito ao Palácio de Belém e que o Presidente sabia ser falsa.
Ao pedido, Cavaco terá respondido que não iria interromper as férias para responder aos deputados do PS, que tinham criticado a participação de membros da casa civil na elaboração do programa de governo do PSD. Sócrates disse que não percebia a ligação e insistiu que a notícia das escutas era ofensiva e, com o país em campanha eleitoral, tinha provocado sérios prejuízos ao PS. Cavaco terá ficado agastado até que, dias mais tarde, a publicação de um e-mail indicava que a notícia tinha sido transmitidas a um jornalista pelo principal assessor de imprensa de Cavaco Silva. Assessor que publica as memórias e revela que tinha recebido uma indicação superior para o fazer.
José Sócrates diz que “lhe custa acreditar na perfídia” e acrescenta que “pela primeira vez na história democrática do país ficou provado que um Presidente concebeu e executou uma conjura baseada numa história falsa, para deitar abaixo um Governo legítimo em funções”.
Sócrates remata: o livro não é uma prestação de contas, mas um “ajuste de contas”.
No livro "Quinta-feira e outros Dias", Cavaco Silva descreve os encontros com o antigo primeiro-ministro socialista, criticando a postura e as políticas de Sócrates.