O futuro de Rui Rio à frente do PSD joga-se nas eleições de dia 26 e na diferença de câmaras entre socialistas e sociais-democratas. Essa diferença é de 61, com o PSD a liderar 98 e o PS a ter 159 presidentes de câmara.
Fazer significativamente melhor é a meta de Rio para se recandidatar e presidente do PSD nas eleições diretas de janeiro. Se ganhar, acha que em 2023 terá condições e circunstâncias para conquistar o país a António Costa. Quanto aos adversário internos, por enquanto não quer falar deles porque, diz, falar da vida interna do PSD é estar a prejudicar o partido.
O PSD é um partido com forte implantação autárquica, mas tem vindo a perder terreno. Que surpresa é que gostava de ter na noite eleitoral? O que é que pode tornar a noite de dia 26 uma boa noite para si?
Objetivamente, dizer por números é muito difícil porque uma coisa é ganhar a câmara de Lisboa, outra coisa é ganhar outra câmara que possa ter cinco ou dez mil habitantes. ambas contam uma câmara, mas têm um peso político diferente. Na segunda-feira, quando se analisar com acalma os resultados é que vamos ver se tivemos um resultado satisfatório ou bom ou se foi fraco. a distância que temos para o PS é de 61 câmaras. Perdemos bastante em 2013 e 2017. O grande objetivo é encurtar fortemente esta distância.
Nesta altura, o que temos em cima da mesa é que Porto e Lisboa, em princípio, estão perdidos.
Não sei porquê.
São tendências que as sondagens mostram. Já sei que não gosta de sondagens.
Não é bem assim. Há uma sondagem para Lisboa que dá 20 pontos de diferenças, passados uns dias sai outra e dá sete ponto de diferença. Isto demonstra o estado de subdesenvolvimento em que o país se encontra neste patamar. Mesmo quando querem fazer as sondagens bem feitas, há pouco quem saiba fazer. E a maior parte delas são inventadas para criar dinâmicas de vitória ou de derrota. Sou exemplo disso, quando fui candidato ao Porto, as sondagens davam-me 19% e eu tive 44.
Já fez certamente as contas. Tem uma meta na sua cabeça que o possa fazer decidir ficar ou não na liderança do PSD, tendo em conta a importância que sempre deu a estas eleições?
Só tenho uma meta na minha cabeça naquilo que me possa fazer não ficar.
Qual é?
É fazer igual ou pior ou muito pouquinho melhor.
Se fizer igual ou pior ...
A 2017. Estamos no ponto zero e no domingo ou na segunda estamos no Ponto 1. Se a diferença entre o zero e o 1 for praticamente nenhuma, se o resultado de 2021 for idêntico ao de 2017 que eu disse que foi mau, o que é que vou fazer? Dada a importância que atribuo às eleições autárquicas de 2021 para a implantação do partido e para uma nova dinâmica no que concerne à oposição nacional, tenho de exigir a mim mesmo ser coerente. E ser coerente é dizer que se 2017 foi mau, se fizer igual, fiz mal.
Fazer mal, que consequências tem? Se fizer igual ou pior sai do PSD?
Do PSD não vou sair.
Da liderança?
Não está em causa sair, demitir-me de nada. Está em causa recandidatar-me ou não a eleições que vão acontecer três meses depois. As eleições diretas no partido são em janeiro, depois o congresso é em fevereiro.
E o que é que é melhor em termos concretos? Ou seja, por exemplo, Coimbra pode ser a sua grande conquista?
Na noite eleitoral, vai ver que vai haver grandes surpresas. Há câmaras onde pensava que o PSD está muito bem e vai ganhar quase de certeza e não ganha e vai haver câmaras onde pode dizer 'o PSD ali não tem grandes hipóteses' e pumba! e ganhou. Todos os anos foi assim porque é que este ano havia de ser diferente? Vai haver surpresas para todos nós, até porque são 308 realidades diferentes.
Não há nada que o possa fazer mudar se ideias de não se recandidatar se o resultado não for aquele que considera mais positivo?
O país entrava em crise, vinha uma pandemia ainda piro, não havia condições para fazer nada, rebentava uma guerra... Um homem é ele e as suas circunstâncias e há situações limite que podem alterar de tal maneira as circunstâncias que deixe de fazer sentido a decisão. Agora, numa situação de normalidade temos de ser coerentes e se há coisa que sou é coerente.
Não tem estado muito presente na campanha autárquica de Lisboa, ao lado de Carlos Moedas. isso é uma estratégia para não ser conotado com uma possível derrota de Carlos Moedas?
Não. Ou então é para não ser conotado com a vitória de Carlos Moedas.
Ainda acredita que é possível ganhar Lisboa?
Isso sim! Estive muitas vezes com o eng. Carlos Moedas, desde logo porque fui eu que o escolhi. Estive já em campanha e vou estar também esta semana. Mas temos 308 concelhos, fiz uma opção de ir ajudar os nossos candidatos mais longe, mais sozinhos e, portanto, fiz os distritos todos do interior. Não posso estar em todos os lados ao mesmo tempo.
Essa escolha de Carlos Moedas foi muito bem recebida. Como é que tem visto o desempenho do candidato?
Ando nisto há muitos anos, não embarco no primeiro comentário, nos tiros que se dão só para fazer um bocado de fogo de artificio. Sei como isto é, até meço por mim ao longo dos anos. Alguém que se pode candidatar a qualquer cosia é o melhor do mundo, é o D. Sebastião, é um tipo fantástico; quando, depois, assume, começam logo a enumerar os defeitos todos, todos, tudo por ali fora.
No caso de Carlos Moedas, era considerado o melhor candidato que o PSD tinha para Lisboa. E era mesmo. Eu também achava e foi. Agora, vai para o combate, sofre ataques, ataca também, leva um desgaste.... não é caso para dizer depois 'ai que pensava que era tão bom e não era'. isto não é assim.
Do que tem visto, acha que ele tem competências políticas?
Tem! Tem competências políticas e faz um percurso ao contrário: é governante nacional, dá o salto para cima, é comissário europeu e agora resolve ir à política local. Normalmente, o que se faz é o contrário. Tinha uma vida profissional completamente estabilizada e bem remunerada e diz 'ponho isto tudo de lado e venho agora servir a minha cidade'. Isto vale muito!
Esta taco a taco com Fernando Medina e pode haver uma concentração de votos no Carlos Moedas porque é mesmo a única alternativa. Quem quiser derrotar o dr. Fernando Medina que é o eng. Carlos Moedas.
E se , depois de dia 26, for preciso fazer coligações em Lisboa, mas também noutras autarquias, tendo em conta os resultados? Já disse que preferia que não se fizessem coligações com o Chega e tem pode para impedi-las. O presidente dos Autarcas Social-democratas (ASD) disse aqui na Renascença que seria desejável não ser fundamentalista nessa recusa e deu até o exemplo dos Açores.
Para clarificar isso, é bom explicar que, em autarquias, não estamos a fazer de coligações. Nas autarquias, se quem ganhou a câmara não tem a maioria dos vereadores, o que se está a falar é se o presidente da câmara dá pelouros a vereadores dos outros partidos. Portanto, não é uma coligação formal, é dizer que vou dar pelouros ao vereador do PS ou do CDS ou do PCP para conseguir uma maioria no executivo municipal. O presidente que tem pelouros dá-os a quem quiser. No limite, até pode fazer o contrário: ganhar com uma equipa e dar os pelouros aos adversários. A lei não proíbe.
É desejável ou não para o PSD distribuir pelouros aos Chega?
Não é desejável. Se fosse desejável, tinha permitido coligações pré-eleitorais.
E porque é que não é desejável?
Porque, como já disse muitas vezes, se o Chega se moderar, o PSD pode conversar; se não se moderar, não há conversa possível. O que tenho assistido é o contrário: em vez de se moderar está cada vez pior.
Neste momento, não há conversa possível com o Chega?
Desta maneira é impossível.
Tem pena de não ter conseguido um entendimento com Pedro Santana Lopes para a Câmara da Figueira da Foz?
Não vou contar a história porque não é pública e não tenho de estar agora aqui a contá-la.
Mas tem pena?
Não tenho, nem deixo de ter. Houve uma dinâmica local, não foi nacional, que levou à solução que temos e eu respeitei a dinâmica local. A maioria das pessoas do PSD local queriam a solução que temos, que é um excelente candidato, o dr. Pedro Machado, e depois havia uma maioria que não queria.
Nalguns casos, impôs a sua decisão e a sua opinião. Nesse caso não quis interferir?
Sim. Há casos em que foi assim, mas aqui não havia sequer condições para interferir. nem estou a dizer que queria interferir.
Porque é que decidiu acabar a campanha eleitoral nos Açores?
Fui a todos os distritos e queria ir também às regiões autónomas. Não consegui acomodar a Madeira, isso tem a ver com os horários dos voos e perdia muito tempo para conseguir aos dois sítios. Mas tinha de ir a um local e resolvi ir aos Açores porque o governo regional foi recuperado já no meu tempo. E, já agora, é mais original, encerrar na região autónoma do que encerrar onde sempre se encerra que é no Continente. Vou a S. Miguel, mas a ideia era ir ao Corvo, que é o sítio mais longe e mais pequenino. Gostava imenso de ir, os aviões é que não dão.
No Continente, encerro em Lisboa, mas depois vou aos Açores e encerro em Ponta Delgada. Sinto-me bem a fazer assim.
Acha que os políticos devem assumir publicamente a sua orientação sexual. Isso é desejável ou dispensável?
Essa pergunta faz sentido e tinha imenso gosto em falar disso consigo e dar a minha opinião, mas sei que essa pergunta não está feita num contexto inócuo, está feita em determinadas circunstâncias e, neste momento, responder era levar-me para a vida interna do partido.
Estou, como é obvio, a falar do que aconteceu recentemente com Paulo Rangel. Isso significa que acha que Paulo Rangel fez bem ou fez mal?
Não vou responder ao tema. Não quero dizer que está bem ou que está mal ou assim-assim porque isso tem implicações diretas na vida do partido. Dada a circunstância em que estamos, o dia em que estamos, o momento em que vivemos, entendo que devo contribuir para a unidade do meu partido. Particularmente, em campanha eleitoral é obrigação de todos os militantes fazer isso e eu, em circunstância alguma vou contribuir para desestabilização, para prejudicar o partido. Mesmo respondendo em abstrato, teria uma leitura direta.
Foi deliberado o facto de não ter comentado aquele vídeo que apareceu a circular do eurodeputado Paulo Rangel?
Comentei, comentei. Critiquei-o na minha conta do Twitter. Aquilo nasceu nas redes sociais e foi nas redes sociais que comentei.
Que sinal é que aquele tipo de campanha pode dar?
As redes sociais têm alguma vertente que é do mais rasca que há. As pessoas são mais rascas na rede social do que são na vida normal.
Acha que Paulo Rangel já está a preparar a corrida à liderança do PSD?
Não responder a nenhuma pergunta sobre a vida interna do PSD. Houve um comunicado da comissão permanente, quando começou o período oficial de campanha eleitoral, apelando a que não se aproveitem da situação atual em proveito próprio, mas sim em favor do partido. Não vou meter-me em conversas da vida interna que fazem o contrário daquilo que a minha própria comissão política pediu.
Antes desta pandemia que ainda estamos a viver, havia no PSD uma convicção, mais ou menos explicita, de que o Orçamento do Estado (OE) para 2022 já não iria passar, que a esquerda que tem sustentado o Governo vai chumbá-lo e que poderia haver eleições antecipadas. Estamos numa altura em que esse cenário já não aprece muito plausível ou ainda acha que é possível?
A situação hoje está um pouquinho mais clara que há dois ou três meses atrás, mas não tenho ainda como completamente certo que o PCP e o BE, principalmente o PCP, esteja tão disponível assim. Mas não sei. Sei que o PCP e o BE têm feito fortes críticas ao Governo. Também sei qual o perfil de negociador do dr. António Costa. É um perfil muito diferente do meu: tenho uma dada convicção, tenho de fazer algumas cedências, mas não sou muito bom a fazer cedências quando tenho uma forte convicção; o dr. António Costa é um negociador e, portanto, estou convencido que, mesmo que o PCP e o BE peçam tudo e mais alguma cosia, vai haver um momento em que o dr. António Costa lhes vai dar para conseguir o equilíbrio. A não ser que, de repente, lhe passe pela cabeça que era preferível para o PS criar uma crise política.
Se o PCP e o BE quiserem, é uma questão de tempo e o Governo cede porque cede a tudo. O problema é se não querem, se o PCP acha que estrategicamente acabou. O processo não está concluído e vai ver que, depois de o OE entrar na generalidade, quer o PCP quer o BE vão dizer 'agora falta a especialidade, portem-se bem porque senão não votamos a favor'.
E o PSD coloca-se outra vez de fora ou vai tentar alguma negociação?
É uma pergunta que está respondida pelo primeiro-ministro. O dr. António Costa quis fazê-lo e afirmá-lo solenemente e disse que, no dia em que o PS precisar dos votos do PSD para um Orçamento passar, o Governo dele cai. Portanto, nunca precisará dos votos do PSD. O PSD é completamente livre, com a liberdade de saber que não tem influência na estabilidade governativa.
Presumindo que o OE é aprovado e a legislatura chega ao fim e vamos a eleições só a 2023 e que se mantém como líder do PSD, acha que em 2023 ganha a António Costa, cosia que até agora não conseguiu?
As coisas não são assim tão lineares. Os resultados têm de ser vistos à luz das circunstâncias. Em 2023, é mais fácil porque há um desgaste do Governo do PS. Aí, já lá vai a troika há muito tempo, o PS começa a falhar como hoje já é notório. A probabilidade de ganhar as eleições ao dr. António Costa é muito superior que era em 2019.
Seja o dr. Rui Rio ou o outro líder?
Obviamente que depende do líder. Falando de mim, as circunstâncias que rodeiam a eleição de 2023 são mais favoráveis ao PSD do que eram em 2019.
Pinto Balsemão diz que é suicidário para a democracia não mexer nas leis eleitorais e que isso acontece porque os partidos põem interesses mesquinhos à frente do interesse nacional. O PSD tem uma proposta concreta já feita e que contou com a colaboração de Balsemão. Tem esperança de ainda fazer uma reforma das leis eleitorais?
Estou de acordo com o dr. Pinto Balsemão sobre a necessidade de mudarmos o sistema eleitoral, que não muda desde o 25 de Abril. É muito, muito mau, mas não é só isso que mata a democracia em Portugal. Apresentámos as linhas fundamentais de um projeto de revisão constitucional que está a ser elaborado e que vai entrar em outubro no Parlamento. No sistema eleitoral, já explicámos o que queremos e o projeto de lei em concreto e deve entrar no Parlamento passadas duas semanas.
Acho vital mudar a Constituição e o sistema eleitoral. O PS diz que não é a altura própria por qualquer coisa. A seguir, apresentamos um projeto de revisão de eleitoral e o PS diz 'os portugueses estão preocupados com outra cosia, não é com o sistema eleitoral'. A seguir, apresentamos uma lei, como fizemos há um ano, para mudar o Tribunal Constitucional e o Supremos Tribunal Administrativo de Lisboa para Coimbra e o PS volta a dizer que agora não é oportuno porque há eleições autárquicas. O PS não quer mudar nada!!!
Perante isso, já perdeu a esperança?
O PS tem de mudar o nome porque é um partido conservador, não quer mudar nada. Andei mais de dois anos, a procurar entendimentos com o PS, não para governo, mas para as reformas estruturais que o Parlamento tem de fazer. Se quiser rever a Constituição, tem de ser com o PS. Não avancei com proposta ao jeito mais politiqueiro, como se sempre se faz; antes de isso, procurei entendimentos para ajudar o país a sério. A mesma coisa com a reforma da justiça. Entreguei um dossier muito bem preparado aos líderes partidários todos e não o fiz publicamente. Não querem nada! Por isso, agora faço de outra maneira: está aqui a minha proposta, votem contra para os portugueses perceberem que eles não querem.
Outra reforma por fazer é a regionalização. O PS remete o reinício do processo para 2024 e o primeiro-ministro disse, no congresso do PS, que não se deve voltar a debater o desenho das regiões. Concorda com este calendário? E considera o desenho das regiões fechado?
Valia a pena debater um bocadinho esta ideia: há as cinco regiões plano, mas há outra possibilidade que seria serem seis. A Área Metropolitana do Porto e a Área Metropolitana de Lisboa devem ser uma região, dado que são muito diferentes das outras ou não? Se entendermos que as áreas metropolitanas devem ser autonomizadas, teríamos de passar de cinco para seis. Acho mesmo que é um ato de inteligência discutir isto.
E o calendário?
É uma reforma que tem de ser muito debatida, muito esclarecida. Se me perguntar se for a favor ou contra a regionalização, eu era contra. No referendo de 1998, fui contra. Podiam pôr-me a regionalização que quisessem, eu seria votaria sempre contra.
Evoluiu, entretanto?
Eu e o país. O país está pior, mais centralizado, mais concentrado. Tenho, entretanto, a minha experiência de 12 anos de autarca. Portanto, hoje gostava de poder ser a favor da regionalização. Ou seja, gostava que encontrássemos uma solução que me confortasse para poder ser. Depende das competências, do financiamento, do modelo. Não é para gastarmos mais dinheiro, tem de ficar mais barato, tem de haver regras muito seguras de que é para melhor enão para pior.
Voltando a Pinto Balsemão, numa entrevista recente à Renascença, falou da liderança do PSD, dizendo que o partido ficaria bem entregue com Paulo Rangel, Carlos Moedas, Miguel Poiares Maduro. Não falou de Luís Montenegro. Concorda com esta leitura?
Não concordo, nem discordo, nem deixo de concordar. Não estaria a cumprir a minha função de presidente do partido se entrasse nesse tipo de conversas na praça pública, quando neste momento temos mais de 64 mil pessoas a lutar por se elegerem pelo PSD. O futuro do partido, neste momento, é o dia 26 de setembro.