Estação do Oriente vai crescer e IP quer começar obras ainda em 2024
16-02-2024 - 18:18
 • João Pedro Quesado

Com um contrato de quase 8,5 milhões de euros, a expansão da famosa Gare volta a entrar nos carris, à boleia dos futuros comboios de alta velocidade. O projeto de 2011 tem de ser adaptado a novas exigências, como três mil passageiros em hora de ponta, novas proteções da chuva e do vento e melhor iluminação.

Santiago Calatrava voltou a ser contratado pela Infraestruturas de Portugal (IP) para projetar a ampliação da Estação do Oriente, em Lisboa, e a gestora quer começar as obras “antes do final de 2024”. É a segunda vez que se avança para a ampliação da famosa Gare devido ao projeto da alta velocidade ferroviária - a primeira foi lançada durante a governação de José Sócrates e acabou por ficar sem efeito à boleia da crise financeira.

O gabinete do arquiteto valenciano foi contratado por quase 8,5 milhões, aos quais acrescem quase 2 milhões de euros em IVA que a IP vai pagar ao Estado. O primeiro contrato em que a extinta RAVE - responsável pelo projeto da alta velocidade ferroviária em Portugal de 2000 até 2011, quando foi integrada na REFER - pediu a Calatrava o projeto de ampliação, de 2008, não está disponível no Portal BASE.

A ampliação vai incluir a reabilitação da Gare do Oriente, nomeadamente das “estruturas metálicas, estruturas de betão e elementos secundários”. A iluminação, cuja “carência” é identificada em “diversas áreas” da estação e se traduz em “falta de atratividade” e “aparecimento de criminalidade”, deve ser reformulada, e passar a utilizar tecnologia LED.

Inaugurada a 19 de maio de 1998, a Estação do Oriente era originalmente marcada por uma floresta de pilares brancos a sustentar a cobertura translúcida. Contudo, nos 25 anos de vida de estação, o branco tem sido substituído por marcas generalizadas de ferrugem, e as queixas de falta de condições das infraestruturas levaram os trabalhadores da CP na estação a marcar uma greve para 29 de fevereiro e 1 de março.

O caderno de encargos do projeto determina ainda a definição de um “novo sistema de acesso” para a lavagem e limpeza da cobertura da estação. A IP queixa-se que o acesso atual “é de difícil utilização”.

As exigências estendem-se ainda à criação de novas barreiras de corta-vento, que já tinham sido pedidas em 2011. No diagnóstico da IP, as estruturas existentes “não garantem o conforto dos passageiros nem a proteção necessária à intempérie, pelo que deve ser prevista a alteração/revisão da solução arquitetónica das barreiras novas e existentes.”

Projeto de 2011 é para rever

A gestora das infraestruturas ferroviárias portuguesas é clara na definição do caderno de encargos para a elaboração do projeto: a intenção é que “o projeto desenvolvido pela ex-RAVE em 2011 seja revisto e atualizado”, seguindo “os novos requisitos técnicos e funcionais do projeto” de alta velocidade. Ao mesmo tempo, deve ser “desenvolvido o projeto de reabilitação da estação atual”.

O projeto de 2011 também previa novas barreiras de proteção contra o vento e alterações aos espaços da estação. As exigências de expansão das linhas e plataformas eram praticamente as mesmas de agora. A expansão da Estação do Oriente vai acontecer do lado poente, onde o Plano Diretor Municipal de Lisboa reserva há muito o espaço necessário.

Para aumentar o número de linhas de oito para 11, vão ser construídas duas novas plataformas, desmontando-se a primeira ilha da estação de autocarros e a mudando a praça de táxis para a ilha seguinte. As novas plataformas devem ter 420 metros de comprimento, contra os 415 previstos em 2011 e os 297 metros das plataformas atuais.

As duas linhas mais a poente das oito que a Estação do Oriente tem vão ainda ser adaptadas, com a expansão da respetiva plataforma para os mesmos 420 metros - elevando o número de vias dedicadas aos serviços de alta velocidade e convencional de longo curso (como os Intercidades) para cinco. As restantes seis linhas, do lado oriente da estação, vão estar dedicadas aos serviços convencionais, como os comboios urbanos de Lisboa.

Com a criação de duas novas plataformas, o projeto de 2011 previa 30 novos módulos para a expansão da cobertura, assim como a construção de dois novos elevadores e dois pares de escadas rolantes e convencionais.

O caderno de encargos do contrato agora assinado prevê mais de três mil passageiros por hora para os serviços de alta velocidade, caso a ocupação média em hora de ponta seja de 50%. Um comboio de alta velocidade “low-cost”, admite a IP, pode transportar 1260 passageiros, enquanto um comboio normal de alta velocidade transportará 404 passageiros.

Descendo aos pisos de áreas comerciais e de apoio à estação, a IP define agora que inicialmente não são necessários “pontos de controlo e segurança para os passageiros” dos serviços de alta velocidade. Contudo, a “necessidade de separar os tráfegos” de passageiros e criar os tais postos de controlo para as zonas de alta velocidade “deve ser prevista”.

As áreas dos passageiros dos comboios de alta velocidade, determina o caderno de encargos, “devem ser claramente diferenciadas das restantes, com uma imagem sóbria e áreas de apoio que transmitam aos passageiros uma perceção da maior qualidade associada ao serviço”.

Há ainda espaços do piso imediatamente abaixo das linhas que vão ser libertados, com o objetivo de permitir a alocação a “eventuais novos operadores”. Não faltam candidatos a operar comboios de alta velocidade em Portugal - além da CP, a B-Rail do grupo Barraqueiro e a italo-espanhola Iryo já manifestaram a intenção.

Mais abaixo, a ampliação da Gare do Oriente leva a estação para cima da localização do Metro de Lisboa. O projeto de 2011 previa que as estruturas de suporte dos novos tabuleiros atravessassem os “níveis inferiores” da estação e chegassem “até à sua laje de fundação, interferindo com alguns serviços”.

Agora, a IP quer evitar esse problema. A ordem é que o gabinete de Santiago Calatrava reveja a solução de 2011, e há duas alternativas: ou é permitida a exploração “em segurança” do Metro de Lisboa durante as obras, ou é desenvolvida uma “nova solução estrutural com fundações e apoios fora da área da estação” do Metro – que terá a última palavra nesta questão.

No caderno de encargos, a Infraestruturas de Portugal diz ainda que pretende “viabilizar o início da construção” dos tabuleiros ferroviários e das coberturas da estação “antes do final de 2024”. A construção específica da via-férrea e a colocação da catenária vão fazer parte de uma empreitada autónoma.