Recentemente, tivemos algumas notícias positivas sobre o comportamento da economia portuguesa. Todavia, há uma má notícia que merece ser aprofundada, tal é a sua importância para o futuro económico do país. Refiro-me à subida do desemprego para 7,2% da população ativa, contra 5,8% um ano antes; também, e sobretudo, impressiona a diminuição de empregos qualificados, nomeadamente de pessoas com licenciatura universitária.
É bem sabido que falta gente para trabalhar. No turismo, na construção civil e na agricultura, por exemplo, a escassez de mão-de-obra só é em parte ultrapassada pelo recurso a imigrantes. Estes aceitam trabalhar recebendo salários muito baixos - quando os recebem.
A carência de trabalhadores nas atividades que, entre nós, criam algum emprego tende a subir um pouco os salários. Pelo contrário, muitos dos mais qualificados não encontram no país quem os empregue, pagando um salário digno. Por isso numerosos jovens licenciados emigram; ou seja, Portugal está a subsidiar empregos no estrangeiro, com o que gastou na formação desses licenciados.
Entretanto, não só não muda o perfil de especialização do nosso aparelho produtivo, assente em setores de baixa produtividade e de baixos salários, como esse perfil se vai agravando. É o pior de dois mundos: faltam trabalhadores nos setores de baixos salários e escasseiam ofertas de empregos qualificados. Como se sai disto?
Não há soluções mágicas. Mas uma coisa é certa: não se ultrapassa este círculo vicioso com retórica propagandística, nem com exortações aos empresários, para que empreguem mais jovens licenciados.
Também é evidente que uma mudança estrutural como esta não é compatível com a conhecida alergia a reformas estruturais do primeiro-ministro A. Costa. Importa, sim, que este problema seja encarado de frente, não o ignorando nem o mantendo na sombra. É imperativo que a torrente de “casos e casinhos” governamentais permita que os governantes, os partidos e a sociedade civil tenham tempo e espaço para debater a sério a questão.
Francisco Sarsfield Cabral