Na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação de Coimbra, o padre André Silva, de Aguiar da Beira, frequenta todas as semanas as aulas do Mestrado em Psicologia Sistémica. O número elevado de funerais que celebra por ano e as dificuldades dos colegas foram as motivações para continuar a investir na área da Psicologia.
“Eu acho que ele é igual, mas desperta sempre curiosidade”, diz Jéssica Castro, de 21 anos, sobre o colega de turma, sacerdote, enquanto outra aluna do mesmo curso, Beatriz Sousa, também de 21 anos, conta já ter questionado “porque decidiu um padre complementar a sua formação”.
Já o amigo, Rodrigo Nogueira, de 24 anos, recorda o primeiro dia de aulas. “Tivemos uma atividade no primeiro dia de aulas, em que tínhamos de escrever num papel algo sobre a nossa identidade. Lembras-te do que escreveste? Um homem do mundo. Tratamo-lo só por padre André. Não sei se o facto de ser padre reforça, mas qualquer pessoa deve continuar a apostar na formação para entender as pessoas”, considera Rodrigo.
André Silva, de 31 anos, pároco em Aguiar da Beira, todas as semanas vai a Coimbra, para assistir às aulas do primeiro ano de Mestrado em Psicologia Sistémica, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.
O padre, natural de Canas de Senhorim e responsável por seis paróquias de Aguiar da Beira, tirou o Mestrado em Teologia e depois, quando começou a paroquiar Aguiar da Beira, sentiu a necessidade de estudar Psicologia, principalmente na vertente do luto.
“Tirei a licenciatura em Psicologia, no Instituto Piaget, em Viseu, e agora o Mestrado em Psicologia Sistémica, em Coimbra. Cada vez mais, a família assume um papel essencial na terapia individual, é preciso olhar de uma forma sistémica, olhar o contexto, a família”, refere o sacerdote.
Fazia falta mais colegas interessarem-se pela Psicologia
Este ano, nas seis paróquias de que é responsável, tem já registados 60 funerais. O luto foi a motivação que levou o padre André Silva a procurar saber mais.
“Mais de 60 funerais celebrados este ano, temos de saber lidar com as situações traumáticas, acidente, doença, acaba por ser complicado a família aceitar a partida da pessoa que amam”, assume, acrescentando que “faziam falta mais colegas a interessarem-se pela Psicologia”.
André Silva quer ainda ajudar os colegas sobrecarregados nas suas rotinas. “Conseguir trabalhar melhor com as pessoas, compreendê-las melhor e até mesmo dentro do sacerdócio, poder ouvir e ajudar os colegas, tendo em conta os problemas de 'burnout' que também começa a surgir e de muitos problemas que temos”, observa.
Dentro e fora da Igreja, o padre André Silva procura aliviar a dor, sobretudo mental, de quem o procura. Estudante universitário, depois da licenciatura em Psicologia, o investimento é no mestrado, sem muito tempo para a vida académica. “Desafiamos o senhor padre, para ir à tarde para os copos, mas à noite nunca pode”, conta Rodrigo Nogueira.
André Silva percebe a curiosidade dos colegas. “Acharam engraçado e ficam curiosos pela vida sacerdotal e como é que eu uso as ferramentas que aprendo aqui. Temos aulas durante a manhã e aproveitamos para nos conhecer à tarde. Não consigo viver tanto a vida académica, entre segunda e quinta, mas tento”, conclui.