Na quarta-feira passada Portugal emitiu dívida a seis e a dez anos. Os juros subiram, embora ainda não dramaticamente. Trata-se de mais um sinal de que a economia mundial está a entrar numa nova fase, que já não será marcada pelo dinheiro barato. É nesse quadro internacional que se irá mover o novo Governo.
Durante cerca de uma década os bancos centrais baixaram, por vezes até zero, os seus juros diretores. Agora, porem, a subida da inflação leva a uma subida dos juros, para travar a alta de preços. O Banco Central Europeu manteve durante meses a esperança de que o surto inflacionista fosse passageiro, mas terá agora que reconhecer o seu engano.
Um risco surge no horizonte – o risco de o BCE e a Reserva Federal (o banco central dos EUA) terem de levar o seu combate à alta geral dos preços a um ponto que implique uma recessão económica. Tal efeito aconteceu várias vezes no passado.
Será, então, que o próximo governo português não terá uma vida tão facilitada como se diz? Não há motivo para pessimismos. Vários fatores jogam a favor de Portugal. A começar pela gestão acertada que tem sido feita da nossa dívida pública, trocando dívida cara por dívida mais barata e prologando o período para a sua amortização.
No mesmo sentido positivo jogam os últimos dados sobre o défice orçamental, que terá ficado em 2021 abaixo de 3% do PIB. Os mercados financeiros mantêm assim a confiança na capacidade do nosso país para honrar as suas dívidas.
Acresce que tudo indica que as regras orçamentais do euro, suspensas até ao fim do corrente ano, não irão regressar em 2023 sem uma razoável dose de flexibilização.
Claro que a competitividade das empresas que operam no país terá de aumentar, de modo que desequilíbrios das contas externas não impeçam a redução da dívida portuguesa. O próximo governo dispõe de uma maioria absoluta no Parlamento e beneficia de um excecional financiamento de Bruxelas. Se, com um conjunto tão favorável de condições políticas e económicas à partida, o próximo executivo não conseguir modernizar Portugal, nenhum outro terá condições para o fazer. É uma responsabilidade que pesa sobre António Costa.