Os agricultores do Algarve classificaram esta terça-feira como incomportáveis os cortes no consumo de água previstos para o setor e querem ser tratados de forma igual ao do ciclo urbano, que acusam de estar a desperdiçar este recurso.
"Os cortes ao abastecimento de água para o setor são incomportáveis e não são relacionáveis com os cortes que são anunciados para os outros setores", disse José Oliveira, da AlgarOrange, a maior associação portuguesa de operadores de citrinos.
Aquele responsável falava numa conferência de imprensa, em Loulé, convocada para dar a conhecer a reação do setor depois de várias associações de agricultores do Algarve terem estado reunidas na segunda-feira.
"As medidas que estão a ser tomadas para o setor da agricultura são medidas de calamidade. Portanto, não compreendemos como é que para uns a situação está quase normal e para outros está perto da calamidade", afirmou José Oliveira.
A Comissão Interministerial de Seca deverá reunir-se na quarta-feira, prevendo-se que sejam depois anunciadas medidas a somar à intenção de impor cortes de 70% para a agricultura e de 15% para os consumidores urbanos, o que inclui o setor do turismo.
"Aquilo que nós vemos é que as políticas ou os cortes anunciados para os outros setores muitas vezes levam-nos a pensar que o objetivo é acabar com a agricultura", disse o representante dos agricultores algarvios.
Consumo urbano está a "jogar para o lixo 30 milhões [de metros cúbicos] de água tratada"
Segundo dados apresentados na ocasião, o setor urbano é o principal responsável pelo desperdício de água na região, com perdas de 30 hectómetros cúbicos por ano, tendo sido criticada a falta de ação no combate a essas perdas por parte dos 16 municípios da região.
"Isto é um crime, e nós não aceitamos que quem desperdiça água desta maneira seja compensado com uma redução simbólica de 15%. Não é justo, não se pode imputar uma redução de 70% a quem poupa e imputar uma redução mínima de 15% a quem desperdiça", disse, por seu lado, José Macário Correia, presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve.
O ex-presidente das câmaras de Tavira e Faro assegurou que os agricultores não querem receber "dinheiro em subsídios para ver as árvores secarem", defendendo que as verbas existentes sejam "investidas em soluções urgentes, emergentes e alternativas".
Macário Correia referiu a existência de 200 milhões de euros atribuídos pela União Europeia ao Estado português e pediu para se avançar com medidas, sugerindo algumas, como abrir um aviso para ir buscar água aos aquíferos que têm água.
Outras das medidas propostas pelos agricultores algarvios são reduzir os caudais ecológicos de algumas barragens e fazer obras urgentes nas redes municipais que estão a perder água, exemplificou.
"É uma vergonha que municípios que têm alguma capacidade de investimento, e no Algarve têm receitas, estejam hoje perante esta situação de jogar para o lixo 30 milhões [de metros cúbicos] de água tratada", insistiu Macário Correia.
Os representantes dos agricultores frisaram que ainda estão numa fase de diálogo, mas que no caso de as medidas que o Governo tome não sejam do seu agrado, reservam-se o direito a tomar outras posições num momento mais oportuno.
"Medidas de agricultores isoladamente, nós não podemos controlar", mas temos "em carteira medidas para tomar ações que nos reservamos o direito" de utilizar, avisou o presidente da AlgarOrange.