Em 1911, uma sentença do Supremo Tribunal americano decidiu que a empresa Standard Oil, de John Rockefeller, era um monopólio, determinando, por isso, que fosse partida em sete empresas, restaurando a concorrência no setor. Mais tarde, algumas dessas empresas contavam-se entre as grandes empresas que dominaram o mercado petrolífero internacional até à segunda guerra mundial.
Hoje, as grandes empresas privadas do petróleo são a ExxonMobil, a Chevron, a BP e a Shell. Mas estas empresas, sendo poderosas, não têm o poder que possuíam no passado. É que quase todos os países produtores de petróleo têm agora empresas públicas, estatais, a agir no setor petrolífero.
Historicamente, o primeiro passo nesse sentido foi dado pelo México. Em 1917 este país nacionalizou o subsolo e em 1938 nacionalizou todo o setor petrolífero. Depois da segunda guerra mundial esta tendência estatizante envolveu países produtores e até países consumidores. Agora as empresas públicas produzem três quintos do “crude” mundial e metade do gás natural. As grandes empresas privadas produzem apenas cerca de dez por cento do petróleo e do gás mundiais.
A maior dessas empresas públicas é a Saudi Aramco, da Arábia Saudita. No solo saudita, assim como no dos Emiratos Árabes Unidos, a extração de “crude” é relativamente barata, sobretudo se comparada com a extração de petróleo no mar. O que confere à Arábia Saudita um enorme poder no mercado petrolífero mundial.
Os EUA, que nos últimos anos voltaram a ser um importante produtor e exportador petrolífero (graças ao “fracking” em rochas de xisto), tentaram há semanas que os sauditas aumentassem significativamente a sua produção, de modo a baixar o preço. Mas, pelo menos para já, não o conseguiram.
Quem manda hoje na Arábia Saudita é o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman (MBS). Este personagem modernizou alguma coisa na sociedade do seu país, por exemplo permitindo que as mulheres pudessem conduzir automóveis. Mas MBS revelou-se também um déspota cruel. No passado recente J. Biden criticou violentamente MBS, o que agora não ajuda a que ele seja recetivo às pretensões de Washington.
O poder dos produtores de petróleo tem um fim à vista, com a descarbonização das economias. Isso torna hoje o setor muito instável. Entre acelerarem a transição para energias renováveis e procurarem manter o seu poder de mercado com combustíveis fósseis, os produtores têm dado respostas variadas e não muito apostadas numa rápida transição. Simultaneamente, nota-se uma certa retração em investir na pesquisa e produção de petróleo e gás, o que se compreende, mas, no imediato, faz subir os preços.
A médio prazo, porém, os países consumidores, como Portugal, ver-se-ão livres das pressões dos produtores de “crude” e gás natural. Incluindo das pressões políticas, como é o caso da Rússia de Putin. Até lá, cabe aos países consumidores acelerar a transição energética, investindo em energias renováveis.