Por cada 1.000 estudantes colocados em universidades e institutos politécnicos, pelo menos 106 não formalizam a matrícula ou são forçados a desistir da ideia de tirar um curso superior por razões económicas.
O cenário é descrito à Renascença pela presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
“Cerca de 10,6% dos estudantes que ficaram colocados em instituições do ensino superior nunca chegaram a matricular-se, porque não conseguem alojamento ou não conseguem pagar as propinas”, diz Mafalda Borges.
O número é “preocupante” e “nós temos tido muito esta discussão na nossa faculdade: ao longo do ano, quais são os estudantes que desistem do ensino superior e quais as razões?”.
Sem se comprometer com um número exato, Mafalda Borges confirma que os pedidos de ajuda são “certamente muitos mais do que no ano letivo passado e há mesmo muitos relatos em torno da questão do alojamento, de estudantes à procura de alguma ajuda da nossa parte de alguém que nós possivelmente possamos conhecer que estivesse a arrendar um quarto mais barato”.
A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova de Lisboa dispõe de duas residências universitárias com “condições que não são as ideais” e sem camas disponíveis, “porque neste, neste momento, há um plano nacional do alojamento do ensino superior que está por cumprir e porque há mais estudantes deslocados do que havia quando esse programa foi implementado”.
Perante este quadro, Mafalda Borges acusa o Estado de “não estar a cumprir a sua função” de promover o acesso dos estudantes mais carenciados ao Ensino Superior, por via da ação social.
“Neste momento, isso não está a acontecer. E pelos pedidos de ajuda, bem como pelos relatos que recebemos aqui na Associação de Estudantes, a situação é realmente muito preocupante”, admite.
Protestos em todo o país
Esta quinta-feira, os estudantes do Ensino Superior cumprem um dia nacional de luta por melhores condições, sobretudo para que os mais carenciados não fiquem excluídos e possam tirar um curso superior, independentemente das dificuldades económicas.
Sob o lema "Até quando vai o muro aumentar? Fim às barreiras no Ensino Superior!", a iniciativa é convocada pelas Associações de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, pela Associação Académica da Universidade de Lisboa, Escola Superior de Teatro e Cinema, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Em causa está a gratuitidade de todos os graus de ensino, o reforço do financiamento público das instituições do ensino superior e da Ação Social Escolar, com particular atenção ao alojamento público para todos os estudantes.
Confira aqui as horas e os locais das manifestações convocadas para esta quinta-feira:
AVEIRO
15:00 - Concentração em frente à Reitoria da Universidade de Aveiro.
BRAGA
13:00 - Concentração no Prometeu no Campus de Gualtar da Universidade do Minho.
COIMBRA
16:00 - Manifestação desde as Cantinas Azuis até à Reitoria da Universidade de Coimbra.
COVILHÃ
12:00 - Tribuna pública na cantina do Pólo de Engenharia da Universidade da Beira Interior.
PORTO
16:00 - Concentração em frente à Reitoria da Universidade do Porto.
LISBOA
14:30 - Manifestação desde a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa até ao Palácio de São Bento.