Ensino Superior. Por cada mil alunos colocados, 106 desistem do curso por razões económicas
23-03-2023 - 08:50
 • André Rodrigues

Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa confirma aumento exponencial de pedidos de ajuda. Preço do alojamento e propinas são as principais razões que levam a que, pelo menos, 10,6% dos alunos desistam de estudar.

Por cada 1.000 estudantes colocados em universidades e institutos politécnicos, pelo menos 106 não formalizam a matrícula ou são forçados a desistir da ideia de tirar um curso superior por razões económicas.

O cenário é descrito à Renascença pela presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

“Cerca de 10,6% dos estudantes que ficaram colocados em instituições do ensino superior nunca chegaram a matricular-se, porque não conseguem alojamento ou não conseguem pagar as propinas”, diz Mafalda Borges.

O número é “preocupante” e “nós temos tido muito esta discussão na nossa faculdade: ao longo do ano, quais são os estudantes que desistem do ensino superior e quais as razões?”.

Sem se comprometer com um número exato, Mafalda Borges confirma que os pedidos de ajuda são “certamente muitos mais do que no ano letivo passado e há mesmo muitos relatos em torno da questão do alojamento, de estudantes à procura de alguma ajuda da nossa parte de alguém que nós possivelmente possamos conhecer que estivesse a arrendar um quarto mais barato”.

A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova de Lisboa dispõe de duas residências universitárias com “condições que não são as ideais” e sem camas disponíveis, “porque neste, neste momento, há um plano nacional do alojamento do ensino superior que está por cumprir e porque há mais estudantes deslocados do que havia quando esse programa foi implementado”.

Perante este quadro, Mafalda Borges acusa o Estado de “não estar a cumprir a sua função” de promover o acesso dos estudantes mais carenciados ao Ensino Superior, por via da ação social.

“Neste momento, isso não está a acontecer. E pelos pedidos de ajuda, bem como pelos relatos que recebemos aqui na Associação de Estudantes, a situação é realmente muito preocupante”, admite.

Protestos em todo o país

Esta quinta-feira, os estudantes do Ensino Superior cumprem um dia nacional de luta por melhores condições, sobretudo para que os mais carenciados não fiquem excluídos e possam tirar um curso superior, independentemente das dificuldades económicas.

Sob o lema "Até quando vai o muro aumentar? Fim às barreiras no Ensino Superior!", a iniciativa é convocada pelas Associações de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, pela Associação Académica da Universidade de Lisboa, Escola Superior de Teatro e Cinema, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Em causa está a gratuitidade de todos os graus de ensino, o reforço do financiamento público das instituições do ensino superior e da Ação Social Escolar, com particular atenção ao alojamento público para todos os estudantes.

Confira aqui as horas e os locais das manifestações convocadas para esta quinta-feira:

AVEIRO

15:00 - Concentração em frente à Reitoria da Universidade de Aveiro.

BRAGA

13:00 - Concentração no Prometeu no Campus de Gualtar da Universidade do Minho.

COIMBRA

16:00 - Manifestação desde as Cantinas Azuis até à Reitoria da Universidade de Coimbra.

COVILHÃ

12:00 - Tribuna pública na cantina do Pólo de Engenharia da Universidade da Beira Interior.

PORTO

16:00 - Concentração em frente à Reitoria da Universidade do Porto.

LISBOA

14:30 - Manifestação desde a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa até ao Palácio de São Bento.