A trasladação de Eça de Queiroz do cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião, para o Panteão Nacional, em Lisboa, está envolta em polémica devido a uma providência cautelar apresentada por alguns dos familiares.
A cerimónia estava marcada para depois de amanhã, mas foi suspensa esta tarde.
O que é se passou?
O Supremo Tribunal Administrativo de Lisboa pediu à Assembleia da República para avançar com uma resolução fundamentada sobre as honras de Panteão.
Como estamos muito em cima do prazo, a cerimónia de 4ª feira fica mesmo sem efeito.
Isso significa que o Tribunal deu razão aos familiares que avançaram com a providência cautelar para travar a trasladação?
Não. O Supremo não trava a trasladação. Decidiu, aliás, não dar seguimento à providência cautelar.
Segundo o despacho a que a Renascença teve acesso, o juiz deita por terra os argumentos dos 6 bisnetos que são contra, dizendo que há 13 descendentes do escritor, portanto uma maioria, que são a favor da trasladação.
Lembra também o juiz que Eça de Queiroz não deixou expressa qualquer vontade sobre o seu funeral.
Fica, então, tudo suspenso a dois dias da trasladação.
E quando é que foi decidida?
Já foi em janeiro de 2021. Há mais de dois anos.
A iniciativa partiu da fundação Eça de Queiroz, que é presidida por Afonso Reis Cabral, bisneto do autor.
Foi impulsionada pelo grupo parlamentar do PS e acabou, depois, por ser aprovada por unanimidade
Já depois dessa aprovação, um grupo de descendentes do escritor ainda escreveu ao presidente da Assembleia da República para propor - em alternativa - a colocação de uma lápide evocativa de Eça de Queiroz no Panteão, de forma que os restos mortais ficassem em Tormes.
Como não aconteceu avançaram com a providência cautelar.
E porque é que Eça de Queiroz está sepultado em Baião?
Depois da morte em 1900, em França, onde residia, Eça de Queiroz foi sepultado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
Mas 89 anos depois, em 1989, porque o jazigo estava abandonado e prestes a ser vendido, a família optou pela sua trasladação para uma sepultura familiar no cemitério de Santa Cruz do Douro em Baião.
Rejeitando já na altura uma proposta do Estado de o sepultar no Panteão Nacional.
O local onde se encontra tem grande simbolismo, porque serviu de inspiração para o romance “A cidade e as Serras”.