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O investigador Henrique Barros considera que se tem dado “demasiado ênfase” à transmissão da Covid-19 pessoa a pessoa, esquecendo o papel das superfícies, defendendo a revisão desta posição porque pode estar aí "o insucesso" no combate à pandemia.
O presidente da direção do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) afirmou na audição por videoconferência na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença Covid-19 que o instituto pretende continuar a trabalhar em três aspetos ligados ao risco.
“O primeiro, que se confunde muitas vezes com os fatores de risco, que é a compreensão dos mecanismos de transmissão de infeção e particularmente de doença”, disse o epidemiologista, lamentando que se tenha trabalhado muito pouco sobre isto em Portugal, porque “é essencial perceber o que se está a passar”.
“Sabemos que não há infeção sem pessoas que transmitam, acreditamos que se tem posto demasiado ênfase na transmissão de pessoa a pessoas por via aérea, esquecendo o papel das superfícies e é preciso rever esta posição porque parte do insucesso também pode estar por aí”, salientou o também presidente do Conselho Nacional de Saúde.
Poe esta razão, Henrique Barros considerou ser fundamental compreender também os contextos da infeção: “defendemos sempre muito a realização de estudos que nos permitissem dizer, informar qual era a natureza dos contextos e que proporção é atribuível a cada um desses contextos”.
Chamou a atenção para um aspeto que “continua extraordinariamente evidente”, que é “a natureza heterogénea” da infeção pelo SARS-CoV-2, que provoca a Covid-19.
O epidemiologista salientou que, “apesar de Portugal ser um país geograficamente pequeno, na sua extensão em termos de distâncias, tem sido particularmente evidente a heterogeneidade da infeção”.
“Daí que falar da infeção em Portugal seja provavelmente um erro porque o tempo da infeção, o espaço da infeção, o momento da sua evolução dinâmica nas populações é completamente distinto nas várias regiões e importa não só identificar isso, compreender isso e agir em conformidade com isso”, defendeu Henrique Barros.
Segundo o epidemiologista, esta heterogeneidade é marcada também na evolução ao longo do tempo, que “é especialmente relevante” para se conseguir perceber “algumas das perplexidades” com que os investigadores se deparam.
Para Henrique Barros, é importante serem capazes de entender “o que está verdadeiramente a agir, o que está verdadeiramente a acontecer, para que em determinados momentos a infeção tenha uma expressão tão marcada e noutros essa expressão seja tão diversa”, no mesmo momento, em locais diferentes, e sob as mesmas medidas gerais aplicadas.
Salientou ainda a importância de investigar e estudar a evolução dos doentes com esta infeção e de “uma forma rápida sublinhar a importância daquilo que se chama a doença Covid longa, ou seja, a persistência de sintomas depois da recuperação e a persistência particularmente sintomas muitos meses após aquilo que se podia considerar o desaparecimento da infeção”.
A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.191.865 mortos resultantes de mais de 101 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 11.886 pessoas dos 698.583 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.