Russos e ucranianos trocam acusações sobre a autoria dos ataques que se têm sucedido junto à central nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia. O governo de Kiev diz que a Rússia transformou o local numa base militar para lançar a ofensiva, mas Moscovo já veio negar as acusações.
Na habitual comunicação noturna ao país, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, pediu a saída do exército russo do local.
“Esta quinta-feira ocorreram novos ataques russos muito próximos da central nuclear e tudo ficou registado em vídeo. A Rússia atingiu o fundo do poço na história do terrorismo mundial. Nunca antes um país tinha utilizado uma central nuclear para ameaçar o mundo e definir determinadas condições. O mundo inteiro tem de reagir de imediato para expulsar os ocupantes da central nuclear de Zaporíjia”, sustentou, acrescentando que a medida é “do interesse global e não só uma necessidade da Ucrânia”.
Zelenskiy sublinhou que “apenas a retirada total dos russo do território da central nuclear e a restauração do controlo ucraniano pode devolver a segurança nuclear a toda a Europa”.
A Rússia rejeita a retirada das suas tropas daquele território, alegando que iria “tornar a central mais vulnerável a provocações e a ataques terroristas”. Ao mesmo tempo, Moscovo diz que apoia uma visita da missão da Agência Internacional de Energia Atômica. A mensagem foi transmitida pelo embaixador russo junto das organizações internacionais em Viena, Mikhail Ulyanov.
Conselho de Segurança da ONU discutiu Zaporíjia
A situação da central de Zaporíjia, a maior da Europa e controlada pelo Exército russo, esteve a ser debatida na noite desta quinta-feira, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.
O Diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, fez uma participação por videoconferência. Na sua declaração pediu que seja facilitada uma visita dos especialistas à central, lembrado que a situação é “grave”. O responsável disse que não há, por enquanto, qualquer ameaça imediata sobre segurança nuclear associada aos bombardeamentos e às ações militares na central, no entanto, avisou que a situação pode mudar “a qualquer momento”.
Rafael Grossi afirmou que “qualquer catástrofe nuclear seria inaceitável” e solicitou a ambos os lados do conflito que trabalhem em conjunto com a AIEA para evitar que tal aconteça. “Peço que nos permitam ir até à central nuclear de Zaporíjia mais depressa possível”, declarou.
O embaixador russo nas Nações Unidas (ONU), Vasily Nebenzya, reiterou a disponibilidade de Moscovo para “ajudar a organizar” uma visita dos especialistas, mas disse duvidar que seja do interesse do governo ucraniano.
“Não tenho certezas de que a Ucrânia queira tanto a visita da AIEA como nós, embora afirmem o contrário. Tivemos a oportunidade de convidar a AIEA a visitar a central já no início de junho. Desenvolvemos todos os esforços, no entanto, não se realizou por causa da posição de Kiev e dos seus patrocinadores ocidentais e também pela posição da ONU que citou razões de segurança", afirmou.
Vasily Nebenzya acrescentou que “os patrocinadores ocidentais de Kiev não se atrevem a dizer o que inicialmente tentaram afirmar, que a Rússia supostamente estava a bombardear o seu próprio pessoal, o mesmo que está a vigiar a central e a cidade de Energodar”.
Esta reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, decorreu a pedido da Rússia, para abordar a situação na central nuclear, alegando que está sob ataque de Kiev.
Antes, o Secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que Rússia e Ucrânia cessem a atividade em Zaporíjia, por receio de um desastre nuclear, e afirmou que estas instalações não devem ser utilizadas como parte de operações militares.