Com os olhos do mundo na Ucrânia, os socialistas europeus avançam com uma delegação de eurodeputados a Israel e à Palestina. Querem a sobrevivência do Governo israelita e a relegitimação democrática da Autoridade Palestiniana. Pelo meio deixam críticas à Comissão Europeia por não libertar dinheiro para o governo de Ramallah.
Pedro Marques, eurodeputado eleito pelo PS, vice-presidente do grupo dos socialistas europeus responsável pelas relações externas, faz parte de uma delegação que a partir de domingo visita Israel e a Palestina.
Estão agendadas reuniões com delegações da sociedade civil e audiências com politicos como o Primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestiniana, Mohammad Shtayyeh, o Ministro da Saúde de Israel e Líder do Meretz, Nitzan Horowitz e o Ministro da Saúde e Líder do Partido Trabalhista de Israel, Merav Michaeli.
Quais são os principais objetivos desta visita a Israel e Palestina ?
Esta visita tem como propósito dar um sinal claro ao Governo israelita, numa altura em que a situação política em Israel é complexa. Existe um risco de uma desagregação da coligação governamental, o que, para nós, é negativo, porque a simples cessação de funções do governo Benjamin Netanyahu constituiu uma oportunidade para Israel e para o próprio processo de paz entre Israel e Palestina. Estaremos com os ministros e com responsáveis da própria sociedade civil de Israel e transmitiremos esta mensagem aos partidos políticos da nossa família política em Israel.
Há respostas que são do foro interno político de Israel mas a interrupção desta solução política não seria uma boa notícia para Israel e certamente também não seria boa para o processo de paz israelo-palestiniano.
Evidentemente, também transmitiremos as nossas preocupações relativamente ao recente assassinato da jornalista americana de origem palestiniana e a falta de um processo de investigação adequado a essa situação.
Nesta fase, cabe-nos apoiar a continuidade do Governo e ao mesmo tempo falar com franqueza com os nossos parceiros políticos e também com as autoridades israelitas sobre questões como a sistemática ocupação de territórios palestinianos e a criação de colonatos que não tem parado.
Traremos exatamente o mesmo tipo de mensagem às autoridades palestinianas. Preocupa-nos a falta de reconhecimento pleno do estado palestiniano e a falta de aplicação da solução dos dois estados como a melhor solução para o processo de paz. Apoiaremos de facto essa solução e ao mesmo tempo temos estado a exercer uma forte pressão política para que, até à nossa visita, seja resolvido o problema do financiamento da autoridade palestiniana no âmbito da Cooperação Europeia. Consideramos inaceitável que esse problema não tenha sido ainda resolvido. Já deixámos clara essa posição à presidente da comissão Europeia em vários momentos.
Diremos também aos palestinianos que independentemente de percebermos as fragilidades da situação da autoridade palestiniana, esta não é beneficiada pelo facto de não se realizaram eleições para o governo há demasiado tempo. Insistiremos também na necessidade da realização de eleições livres nos territórios palestinianos.
A União Europeia tem sido uma das forças internacionais desde sempre muito empenhada no apoio ao lado palestiniano. A ajuda financeira que tem sido fornecida ao longo das décadas pela união europeia é um compromisso inabalável? Se não for cumprida essa revitalização democrática dos órgãos palestinianos, a própria ajuda europeia estará em casa ?
A nossa parceria com o Estado de Israel e com seu governo deve continuar a ser forte. não temos nenhuma ambiguidade sobre essa matéria. Precisamos de um Israel forte e democrático, com direito a viver em segurança e em paz. Mas, ao mesmo tempo, se fomos críticos em particular no período dos governos de Netanyahu e sobre a sua visão não só para Israel mas também para o processo de paz, mantemos também a exigência do lado palestiniano. Apoiaremos inequivocamente a necessidade do estabelecimento do processo de paz, da necessidade do funcionamento da solução dos dois estados, mas também queremos que a Autoridade Palestiniana faça a sua parte. Desde logo isso passa pela realização das eleições democráticas.
Neste momento não equacionar acrescentar as consequências desastrosas da administração Trump sobre a situacao do processo de paz e em particular sobre a Palestina, com cortes brutais ao financiamento da Autoridade Palestiniana. Pelo contrário opomo-nos em particular ao tipo de condicionalidades que por exemplo o comissário Oliver Varhelyi, responsável pela pasta do alargamento, pretenderia apresentar aos financiamentos da autoridade Palestiniana que, do nosso ponto de vista, tem que ser apoiada sem uma atitude parecida à de Donald Trump.
A Guerra na Ucrânia nao faz divergir agora a atenção da comunidade internacional sobretudo para processos tão longos como o conflito israelo-palestiniano?
As soluções propostas pelo Presidente Obama não tiveram acolhimento, e a orientação americana já era maior para a área do Pacífico. A falta de atenção ao conflito agravou-se com Trump e as soluções propostas para o conflito revelaram-se desequilibradas. A ausência de reequilibrio dessas propostas no contexto dos Acordos de Abraão não ajudou a melhorar a situação. Há de facto agora um risco de continuação de uma atenção mais reduzida, em face da nova prioridade global ao conflito de agressão russa na Ucrânia.