Esteve na Web Summit de 2016. Esta edição é diferente?
É, em primeiro lugar, muito importante para Portugal porque é a consolidação da ideia de que Portugal é um país de empreendedores, de tecnologia, de inovação. E, como portugueses, devemos aproveitar isso ao máximo. Tenho visitado tantas destas feiras e eventos em toda a Europa e não há nenhuma como esta. A Web Summit é muito maior e muito melhor do que tudo aquilo que tenho visto, mesmo comparado com grandes eventos como a Viva Technology, em França, ou em Amesterdão ou Berlim. Este evento é muito superior e maior e cria uma dinâmica muito única.
Há também aqui uma questão quase continental para resolver.
Sem dúvida, este é o nosso grande desafio como europeus: como é que vamos ter mais inovação, transformar aquilo que nós já somos – porque somos os melhores na ciência, somos apenas 7% do mundo, mas produzimos 35% da ciência do mundo –, mas depois não conseguimos muitas vezes transformar essa ciência em produtos, em inovação, em empresas e em empregos. É esse o grande desafio da Europa e a Web Summit é uma maneira de ajudar a Europa e por isso criámos este ano uma aliança com o Paddy Cosgrave [fundador da Web Summit] para poder anunciar o prémio da cidade mais inovadora da europa – um cheque de um milhão de euros.
Porque é que a Europa não está a conseguir em pleno transformar ciência em resultados económicos?
Por várias razões. Uma delas é porque temos uma grande dificuldade em dar a palavra aos empreendedores, em deixar que as pessoas criem mais empresas, que tenham menos dificuldades e menos rigidezes na economia. Somos um mercado de 500 milhões, mas que está fragmentado, em que um empreendedor vai ter que montar uma empresa em cada país. Nos Estados Unidos, isso pode ser feito ao nível de todo o país...
Mas para isso é preciso harmonizações, em termos fiscais e outros.
Sim, sem dúvida, e isso foi o grande discurso do presidente [da Comissão Europeia, Jean-Claude] Juncker este ano: vamos clarificar o papel da Europa, vamos ter mais decisões que não sejam apenas por unanimidade. Muitas vezes não vamos estar todos de acordo, mas vamos ter de decidir por maioria. E, sobretudo, saber quem faz o quê: o que faz a Europa e o que faz cada um dos países.
Na dinâmica da nova economia, que a Web Summit põe em relevo, há uma certa alergia à burocracia. O Governo de António Costa tem dito que há um processo de desburocratização em curso. Qual é o seu diagnóstico?
Tem sido um caminho que Portugal está a seguir desde há muitos anos, desde o governo em que fiz parte e agora neste governo, que é uma estratégia de simplificar. É algo apartidário, é bom para todos, é bom saber que Portugal continua nesse caminho de tirar a burocracia, de conseguir que as pessoas tenham menos barreiras. É isso que faz com que se criem empresas ou não. Só vou para um país se souber que nesse país tenho facilidade em criar a minha empresa, em contratar, em avançar com a minha ideia...
E essa facilidade existe em Portugal?
Está muito melhor do que há 10 anos ou 15 anos. Quando acabei o meu curso em Portugal, era quase impensável montar uma empresa. Portugal avançou imenso nesse caminho, foi um caminho de 20 anos a avançar, a simplificar. Se estamos perfeitos? Obviamente que não, há muita coisa para fazer em Portugal, mas também em toda a Europa. Vivendo fora, aprecio muitas vezes mais Portugal e aprecio naquilo que as pessoas muitas vezes pensam “se fosse lá fora era mais simples”. Portugal era um país muito burocrático historicamente, logo tudo isto demora muito tempo, mas estamos melhor do que muitos países na Europa.
Vai estar na Web Summit os dias todos ou só cumprirá o seu programa oficial?
Vou estar até quarta-feira, vou falar em vários painéis, vou sobretudo falar com os empreendedores e perceber como é que podemos simplificar mais a vida deles. Nós estamos a lançar agora um grande programa a que chamamos o Centro Europeu de Inovação, uma ideia que vem do Presidente Macron. É um "one stop shop": as pessoas sabem onde têm que ir para receber fundos para a inovação. Hoje, temos um mercado muito fragmentado, temos muitos produtos, muitos projectos. Vamos ter que ter algo mais simplificado. Nesse aspecto, vamos anunciar aqui 3 mil milhões de euros para a inovação até 2020 num projecto interessantíssimo, o Centro Europeu de Inovação.