Em plena escalada dos preços, não é só no supermercado e na habitação que os portugueses têm de cortar no orçamento. Quem começa uma vida em casal sente especialmente os impactos da inflação, quando prepara um casamento ou procura uma casa.
Ainda assim, as estatísticas são positivas. Segundo dados da Pordata, em 2022 celebraram-se 36.952 casamentos em Portugal, o maior número desde 2011. O aumento das uniões entre pessoas do mesmo sexo ajuda a explicar estes números, a par da pandemia: muitos dos enlaces adiados em 2020 e 2021, devido aos confinamentos e às restrições sanitárias, tomaram finalmente lugar no ano passado.
Porém, no que a Covid-19 ajudou, também dificultou. A quebra na faturação e a inflação provocada pela guerra na Ucrânia são as duas grandes causas do aumento dos preços no setor dos casamentos, desde a alimentação à lua-de-mel.
Ana Amaro e Vasco Carneiro estão noivos há cinco anos e vieram este ano à Exponoivos, em Lisboa, há procura de soluções em conta para o casamento. Entre faturas e orçamentos, são rápidos a fazer um balanço: uma cerimónia em Portugal, com 75 convidados – “o que nem é um casamento muito grande” – pode “facilmente custar mais de dez mil euros”. E na hora de reduzir gastos, a lista de convidados é a primeira a sofrer cortes.
“Optamos por ter as pessoas mais importantes. Vamos casar na igreja e para essa parte toda a gente poderá ir. Para o copo de água, talvez não. Custa-nos, mas faz parte. É impossível suportar um casamento com muitos convidados hoje em dia”, explicam.
A dificuldade em arranjar o orçamento necessário já os fez adiar a cerimónia várias vezes. Apesar de “sofrerem muito” com a inflação nos bens alimentares e nos combustíveis, Ana e Vasco revelam à Renascença que o principal peso na carteira é outro: os preços da habitação. “Temos de garantir um lugar para viver. O dia-a-dia é mais importante do que o grande dia. Não vamos hesitar, se tivermos de abdicar da lua-de-mel em prol da nossa casa”.
A tarefa também tem sido difícil para João Dias. Está noivo de Catarina Mendes há pouco mais de um ano. Todos os dias pede orçamentos para encontrar a quinta perfeita para a cerimónia, mas de “ano para ano, os preços têm aumentado”. João queixa-se principalmente dos menus, “que acompanharam a inflação e subiram cerca de 10%, no mínimo”.
A noiva interrompe-o logo de seguida. No meio de “tantas dificuldades e batalhas para conseguir uma cerimónia em conta”, Catarina tenta não ficar desanimada - e deixa um conselho a todos os casais.
“Espero que cada casal nunca se esqueça da verdadeira razão que os está a fazer dar este passo. É muito fácil perdermo-nos e desmotivarmo-nos no meio de tantos fornecedores e orçamentos. Mas não é um bicho de sete cabeças, principalmente se pensarmos que é uma forma de celebrar o amor”, reforça, enquanto guarda as amostras de ramos de flores que trouxe de um dos stands da feira.
Aumento dos preços não significa dificuldades nas vendas
Do lado da oferta, o panorama é bem diferente. Silvia Bordalo é agente de viagens e há quase uma década que se dedica praticamente em exclusivo aos planos de lua de mel. De forma geral, e “depois de muitas negociações com o setor da aviação”, conseguiram manter os preços dos pacotes. Ainda assim, Sílvia garante-nos que os noivos não se importam de pagar um pouco mais, desde que “a experiência valha a pena”.
“Atualmente, e depois de termos estado fechados durante a pandemia, os casais procuram planos românticos, como jantares na praia.”. E acrescenta: os destinos preferidos não mudaram desde 2019. “As Maldivas continuam a ocupar o topo das nossas vendas, logo seguidas das Ilhas Seicheles e das Caraíbas. Claro que há pessoas que procuram opções mais em conta, mas isso sempre houve”.
Diana Tojal também não sentiu quebras na faturação. Em 2021, ainda a meio da pandemia, lançou-se a medo no mercado de casamentos e abriu duas quintas para grandes eventos. Desde aí, não tem tido razões de queixa.
“Temos sentido mais procura, até. O menu ronda os 75€ por pessoa, já depois do aumento de 10% que fizemos no último ano, para acompanhar a concorrência.”, conta-nos, logo a seguir de ter fechado um copo-de-água, já para 2024. Quando lhe perguntamos se os clientes demoram muito a ponderar depois de receberem o orçamento, Diana deixa uma garantia.
“Quando as pessoas querem casar, têm a certeza do passo que vão dar e de todos os custos. Apesar das queixas, estão dispostas a pagar os preços do mercado”, remata.