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No dia em que é revelado um estudo do "European Heart Journal" que mostra que mais de metade dos casos graves de internamento por Covid-19 apresentam lesões no coração, só detetadas quase dois meses depois de terem alta, surge um grito de alerta dos médicos. Os clínicos estão preocupados com as queixas dos doentes que estiveram infetados.
Os problemas de saúde que surgem após a infeção por Covid-19 devem ser avaliados precocemente e requerem um acompanhamento, referem os profissionais. Segundo Ângela de Campos Gonçalves, especialista em Medicina Geral e Familiar na CUF, os estudos mostram que os doentes, após Covid-19, “enfrentam taxas elevadas de disfunção de múltiplos órgãos, como os pulmões, o coração, o cérebro, o fígado e os rins”.
Esta médica que admite que vão “aprendendo pela experiência clínica", alerta para o facto de “ao longo destes meses” se ter tornado “cada vez mais evidente que os doentes que recuperam da Covid-19 tendem a precisar de cuidados de saúde”.
“Temos percebido que há pessoas que após terem Covid-19 ficam não só com um quadro de fadiga pela própria infeção, mas ao realizarmos exames complementares de diagnóstico evidenciam mazelas”, refere esta especialista que dá como exemplo “o agravamento de alguma patologia prévia ou algum défice ao nível da função cardiorrespiratória” que possa acontecer depois da alta. Esta médica da CUF defende por isso que os doentes devem ser “vigiados e acompanhados” para evitar que as sequelas se tornem permanentes.
Michele De Santis, médico pneumologista na CUF avança dados. “Estima-se que mais de 50% dos indivíduos após a infeção possam manter algum tipo de queixa, sendo os sintomas mais comuns cansaço, dor crónica, dores musculares e falta de ar”. Para este clínico alguns dos sintomas “podem apresentar-se de forma intensa ao ponto de gerar incapacidade” e dificultar “a qualidade de vida e a reinserção social e profissional”.
Se já teve infetado com Covid-19 e já lhe foi dada alta, deve deixar passar 6 a 8 semanas após a infeção aguda, para então fazer uma avaliação. É pelo menos essa a recomendação de Ângela de Campos Gonçalves. Numa altura em que a rede CUF disponibilizou em várias unidades de norte a sul do país, uma consulta pós-Covid-19, a médica indica que os doentes que podem ser avaliados presencialmente ou em teleconsulta serão alvo de uma abordagem multidisciplinar.
“Através da avaliação médica de cada pessoa pode ser identificada a necessidade de realizar exames complementares de diagnóstico, cujos resultados podem justificar uma abordagem multidisciplinar, motivando, por exemplo, a referenciação para consulta de pneumologia, cardiologia, medicina física e reabilitação, otorrinolaringologia, psiquiatria ou neurologia”, explica a médica especialista em Medicina Geral e Familiar.
Quem já tratou vários doentes na consulta pós Covi-19 foi Michele De Santis. Este médico deixa um aviso: é importante “não adiar a procura de resposta clínica, não só nos casos em que não haja uma recuperação total, como também nos casos em que não existam sintomas aparentes após a infeção”.
Recorde que o estudo divulgado esta quinta-feira na publicação "European Heart Journal", da Sociedade Europeia de Cardiologia e que envolveu 148 doentes de seis hospitais britânicos revela que 54% dos que estiveram infetados apresentavam cicatrizes ou lesões no músculo cardíaco. Estes problemas que incluem miocardite, enfarte do miocárdio e isquemia em muitos dos casos foram detetados um a dois meses depois da alta clínica.