Mal tinha terminado a visita oficial do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, à China, Trump subiu os direitos alfandegários sobre importações vindas daquele país, pela terceira vez em menos de um ano. Na semana passada o embaixador dos EUA em Lisboa avisou publicamente que, se for por diante o acordo entre a Huawei e a Altice Portugal, Washington irá restringir a transmissão de informações aos serviços secretos portugueses.
Ou seja, apesar do entusiasmo manifestado pelo Presidente Marcelo quanto ao aumento do comércio entre Portugal e a China e do investimento empresarial chinês no nosso país, o intercâmbio económico com a China não está fácil.
É certo que as negociações comerciais entre os EUA e a China ainda prosseguem. E até é possível, embora não seja provável, que esta guerra comercial conheça uma trégua. Mas, a médio e longo prazos, não há motivo para optimismos.
Primeiro, porque Trump é um convicto protecionista. Tem uma visão mercantilista do comércio internacional, segundo a qual o que interessa à economia de um país é exportar mais do que importa. Era uma ideia prevalecente há 300 anos...
Os EUA dispõem de um enorme mercado interno, por isso podem limitar os danos de terem importações mais caras. Mas a atividade produtiva moderna cada vez se internacionaliza mais, envolvendo empresas situadas em diversos países, pelo que muitos circuitos produtivos que terminam na América são afetados pelo protecionismo. Prejudicados também são os consumidores nos EUA, porque sobem os preços de bens e serviços que incorporam elementos chineses.
Depois, como era previsível, a China logo anunciou retaliar, visando nomeadamente as importações provenientes de zonas onde Trump teve mais votos e sobretudo as compras de soja americana. A Casa Branca já prometeu auxílios para as empresas agrícolas dos EUA mais prejudicadas pelo protecionismo.
Mas Trump não se preocupa com esses inconvenientes. Nos meios de negócios dos EUA existe um claro sentimento de irritação com várias práticas chinesas. O roubo de tecnologia, por exemplo, e o receio de que os artigos vendidos pela China posam servir para espionagem. Também há queixas quanto ao protecionismo chinês, que marginaliza as empresas estrangeiras que operam na China. Por queixas desse tipo há agora deputados do partido democrático que que apoiam a guerra comercial contra a China.
Do lado da China, também as perspectivas não são favoráveis ao fim das tensões com os EUA. Primeiro, porque o presidente Xi Jinping voltou ao marxismo, pelo menos nas palavras, e nos factos reforçou a ditadura do partido comunista sobre a sociedade chinesa e a própria economia. Mao volta a ser uma referência.
Tem aumentado o nacionalismo dos dirigentes chineses. E começam a ouvir-se vozes contra um eventual acordo com os EUA. Os “falcões" chineses que assim pensam consideram uma inaceitável humilhação ceder a pressões de Trump.