O Papa desafiou os jovens a terem uma vida plena e a lançarem-se na “aventura da misericórdia”. “Lança-nos na aventura da misericórdia! Lança-nos na aventura de construir pontes e derrubar muros (cercas e arame farpado); lança-nos na aventura de socorrer o pobre, que se sente sozinho e abandonado, que já não encontra sentido para a sua vida, lança-nos na aventura de acompanhar quem não te conhece e a dizer, respeitosamente, o Teu nome e as razões da nossa fé”, afirmou Francisco na cerimónia de boas vindas na Jornada Mundial de Juventude (JMJ), que decorre em Cracóvia.
Às centenas de milhares de jovens que o esperavam no parque Blonia, Francisco lembrou o Evangelho que tinha acabado de ser lido e que conta a visita de Jesus a casa de Marta, Maria e Lázaro. E apelou para que se sintam impelidos, como Maria de Betânia, “para a escuta daqueles que não compreendemos, daqueles que vêm de outras culturas, outros povos, mesmo daqueles que tememos porque julgamos que nos podem fazer mal”.
O Papa chegou ao parque onde se concentram as actividades da JMJ passando de carro entre os milhares de jovens. Começou por agradecer a “calorosa recepção”. E depois lembrou o Papa que criou as jornadas. “Nesta sua terra natal, quero agradecer especialmente a São João Paulo II, que sonhou e deu impulso a estes encontros”, disse o papa, apelando aos jovens que aumentassem os aplausos. “Do céu, ele nos acompanha vendo tantos jovens pertencentes a povos, culturas, línguas tão diferentes animados por um único motivo: celebrar Jesus que está vivo no meio de nós. E dizer que está vivo é querer renovar o nosso desejo de O seguir, o nosso desejo de viver com paixão o seu seguimento”, acrescentou Francisco.
Recordando os seus anos de bispo, Francisco disse que “não há nada mais belo do que contemplar os anseios, o empenho, a paixão e a energia com que muitos jovens abraçam a vida. Quando Jesus toca o coração dum jovem, duma jovem, estes são capazes de acções verdadeiramente grandiosas”. E continuou: “Conhecendo a paixão que pondes na missão, ouso repetir: a misericórdia tem sempre o rosto jovem. Porque um coração misericordioso tem a coragem de deixar a comodidade; um coração misericordioso sabe ir ao encontro dos outros, consegue abraçar a todos. Um coração misericordioso sabe ser um refúgio para quem nunca teve uma casa ou perdeu-a, sabe criar um ambiente de casa e de família para quem teve de emigrar, é capaz de ternura e compaixão. Um coração misericordioso sabe partilhar o pão com quem tem fome, um coração misericordioso abre-se para receber o refugiado e o migrante. Dizer misericórdia juntamente convosco é dizer oportunidade, dizer amanhã, compromisso, confiança, abertura, hospitalidade, compaixão, sonhos.”
Mas, por outro lado, contrapôs que o entristece encontrar jovens que parecem «aposentados» antes do tempo. “Preocupa-me ver jovens que desistiram antes do jogo; que «se renderam» sem ter começado a jogar; que caminham com a cara triste, como se a sua vida não tivesse valor. São jovens essencialmente chateados... e chatos. É duro, e ao mesmo tempo interpela-nos, ver jovens que deixam a vida à procura da «vertigem», ou daquela sensação de se sentir vivos por vias obscuras que depois acabam por «pagar»... e pagar caro”, alertou o Papa, perguntando aos jovens presentes: “ Para a vossa vida quereis aquela «vertigem» alienante, ou quereis sentir a força que vos faça sentir vivos, plenificados? Vertigem alienante ou força da graça?”. E, perante a resposta dos jovens, pediu que fossem mais veementes.
A resposta para uma vida plena, disse o Papa, “é uma pessoa e está viva, chama-se Jesus Cristo”. “Jesus Cristo é aquele que sabe dar verdadeira paixão à vida, Jesus Cristo é aquele que nos leva a não nos contentarmos com pouco e a dar o melhor de nós mesmos; é Jesus Cristo que nos interpela, convida e ajuda a erguer-nos sempre que nos damos por vencidos. É Jesus Cristo que nos impele a levantar o olhar e sonhar as alturas”, continuou Francisco, que, de improviso, lembrou uma canção dos alpinistas que que diz que o importa não é cair, mas não ficar no chão.
“A mão de Jesus está sempre pronta a levantar-vos quando caem”, assegurou Francisco, dizendo que não importa quantas vezes uma pessoa cai, Jesus está sempre pronto a ajudá-la a levantar-se.
O Papa recordou, então, a passagem do Evangelho que tinha sido lida e adaptando-a à realidade dos jovens. “Por vezes as inúmeras ocupações fazem-nos ser como Marta: activos, distraídos, sempre a correr daqui para ali... mas há vezes também que somos como Maria: à vista duma bela paisagem, ou dum vídeo que um amigo nos envia ao telemóvel, paramos a reflectir, a escutar. Nestes dias da JMJ, Jesus quer entrar na nossa casa, na tua casa, na minha casa, no coração de cada um de nós; dar-Se-á conta das nossas preocupações, da nossa pressa, como fez com Marta... e esperará que O escutemos como Maria: que, no meio de todas as tarefas, tenhamos a coragem de nos confiarmos a Ele. Que sejam dias para Jesus, dedicados a ouvi-Lo, a recebê-Lo nas pessoas com quem partilho a casa, a rua, o grupo ou a escola”, afirmou Francisco, acrescentando que “quem acolhe Jesus, aprende a amar como Jesus”.
Já na parte final do discurso, depois de desafiar os jovens a lançarem-se na “aventura da misericórdia”, Francisco, também de improviso, perguntou-lhes se falam com os avós. Perante a resposta afirmativa, pediu que escutem os avós, pois “eles têm a sabedoria da vida”. E, a terminar, voltou a apelar aos jovens que vivam uma vida plena, que é aquela que é vidada a partir da misericórdia.
A Renascença com o Papa
Francisco na Polónia. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa